A inflação está sendo impulsionada pela persistência da seca e das queimadas no Brasil, que ampliam os desafios econômicos e têm impactos negativos potenciais sobre o PIB. Esses fenômenos afetam a oferta de energia e a produtividade agrícola, resultando em elevação da inflação e redução do crescimento econômico.
O relatório da LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), divulgado na última terça-feira, destaca que as expectativas de inflação deterioraram-se desde maio, impulsionadas pela desvalorização do real e pelas mudanças nas bandeiras tarifárias da energia elétrica. A seca também está pressionando os preços dos alimentos.
Apesar das melhorias na infraestrutura energética e da expansão das fontes alternativas de energia, esses esforços levarão tempo para se concretizar e mitigar os efeitos da falta de chuvas, conforme observa a LCA.
Quanto à taxa básica de juros, o Banco Central pode elevar a Selic devido às expectativas de inflação e ao mercado de trabalho restrito, mesmo que as tendências em outras economias sejam opostas. A LCA prevê um aumento moderado, limitado a 150 pontos-base, dada a recente desaceleração na inflação.
Matheus Dias, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), antecipa um aumento no Índice de Preços ao Consumidor Amplo em setembro, refletindo o impacto da seca e das queimadas nos preços dos alimentos. A produção de carne suína e de frango, predominantemente na região Sul, também será afetada, principalmente devido à seca e à previsão de La Niña.
A Conab ressalta que o impacto da estiagem será mais pronunciado nos preços de alimentos como leite, carne, arroz, feijão, frango e ovos, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste. No entanto, para grãos como arroz, soja, milho e trigo, o impacto nos preços será menor, uma vez que a maior parte da colheita já foi concluída.
Estamos testemunhando uma das mais severas temporadas de queimadas da história do país, superando em intensidade o Dia do Fogo de 2019 e o mar de chamas de 2004. Esse cenário preocupante não apenas afeta o meio ambiente do Brasil, mas também tem implicações globais.
Desde os anos 70, com o escândalo da queima de uma propriedade de cem mil hectares no Pará, a situação das queimadas se tornou cada vez mais crítica, expandindo-se para a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.
A destruição de biomas, como a Mata Atlântica, ocorreu a uma taxa alarmante, com a cobertura vegetal reduzida em mais de 90% ao longo de cinco séculos. Em contraste, o que estamos vendo agora ocorre em menos de duas gerações.
Atualmente, os ventos que transportam a umidade evaporada pela floresta amazônica para irrigar o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, fenômeno conhecido como “rios voadores”, estão carregando uma densa fumaça negra gerada por vastas áreas de vegetação queimada.
Esse impacto é amplificado pela queima de áreas de pastagem, cuja vegetação original já foi devastada há algum tempo.
Além disso, grandes áreas cultivadas com cana-de-açúcar no centro-oeste paulista, que anteriormente faziam parte da Mata Atlântica, também estão ardendo. Essa ocorrência é inédita desde 2007 e destaca a gravidade do problema, com muitos focos de incêndio começando simultaneamente, como mostram as imagens de satélite.
Fonte: CNN Brasil.