Categoria(s) do post: Agronegócio

Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio entre produtores rurais pessoa física no Brasil registraram um aumento significativo de 529% no segundo trimestre deste ano, com 214 solicitações feitas, segundo um levantamento recente da Serasa Experian, divulgado em 25 de outubro. Esse número representa um salto quando comparado ao mesmo período do ano passado, que registrou apenas 34 solicitações.

Fatores econômicos que impulsionam os pedidos de Recuperação Judicial no agronegócio

Esse aumento nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio reflete a confluência de fatores econômicos que têm impactado fortemente o setor. De acordo com Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, elementos como a alta da taxa Selic, instabilidade climática, queda nos preços das commodities e aumento dos custos de produção prejudicaram consideravelmente a renda dos produtores rurais. Esses fatores tornaram a sustentabilidade financeira dos produtores rurais mais difícil de manter, levando-os a buscar recuperação judicial como forma de aliviar o peso das dívidas acumuladas.

A alta na taxa Selic, por exemplo, elevou o custo do crédito, dificultando o financiamento e aumentando as despesas com dívidas já existentes. Além disso, a variabilidade climática, com secas prolongadas e chuvas fora de época, impacta diretamente a produtividade e, por consequência, a renda dos produtores. Esses desafios financeiros acabam, em muitos casos, culminando na necessidade de recorrer à recuperação judicial para reestruturar os débitos.

Ainda segundo Pimenta, o número total de pedidos de recuperação judicial no agronegócio ainda é considerado pequeno, se comparado ao universo de cerca de 1,4 milhão de produtores que acessaram crédito rural nos últimos dois anos. No entanto, o aumento expressivo nas solicitações revela um sinal de alerta sobre a saúde financeira de muitas propriedades rurais no país, especialmente aquelas que dependem de culturas que sofreram com a queda de preços no mercado global.

Pequenos e médios produtores rurais também sentem a pressão econômica

O levantamento da Serasa mostra que as dificuldades econômicas no setor rural afetam produtores de todos os portes. Pequenos proprietários rurais responderam por 44 dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio, enquanto grandes produtores apresentaram 36 solicitações e médios produtores, 35. Esses números demonstram que, independentemente do porte, a pressão econômica tem forçado muitos a repensarem suas operações e a buscarem alternativas para lidar com a instabilidade financeira.

Geograficamente, os estados com maior concentração de pedidos de recuperação judicial no agronegócio foram Mato Grosso, com 57 solicitações, e Goiás, com 54. Esses estados são grandes produtores de soja e milho no Brasil e, por isso, acabam sendo mais sensíveis às variações de preço das commodities e às oscilações climáticas. Outras regiões também aparecem como destaque, como Minas Gerais, com 35 pedidos, Mato Grosso do Sul, com 23, e Paraná, que registrou 12 solicitações.

Impacto no crédito e na sustentabilidade do agronegócio

O aumento nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio tem implicações não apenas para os produtores diretamente envolvidos, mas também para a percepção dos credores em relação ao setor. Pimenta destaca que a concentração de recuperações judiciais em estados estratégicos gera certo pessimismo entre os credores, especialmente aqueles que começaram a atuar nessas regiões recentemente. Com mais produtores enfrentando dificuldades para honrar seus compromissos financeiros, pode haver uma maior cautela na concessão de crédito ao setor agrícola, o que, por sua vez, pode afetar a expansão de muitos negócios.

Dessa forma, a escalada dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio representa uma tendência preocupante para o setor, que é vital para a economia brasileira. À medida que os produtores buscam formas de reestruturar suas operações para se adaptarem a um ambiente econômico desafiador, é fundamental que o setor financeiro, as políticas públicas e as próprias entidades do agronegócio trabalhem juntas para desenvolver soluções de suporte que ajudem a mitigar esses efeitos e permitir a recuperação do setor a longo prazo.

Fonte: Exame.

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