Os ônibus elétricos devem equivaler à metade da frota do país em até dez anos. Quem faz essa previsão é o diretor da Marcopolo, Rodrigo Pikussa. Atualmente no país, circulam aproximadamente 380 mil ônibus, segundo dados de um levantamento feito em 2018 pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A prefeitura de São José dos Campos, interior do estado de São Paulo, lançou recentemente o primeiro projeto do país na modalidade “veículos leves sobre rodas 100% elétrico”, com 12 unidades – que começarão a ser fabricados em março e entregues até o fim de outubro de 2021.

O mercado brasileiro de ônibus urbanos movimenta entre 10 mil e 15 mil unidades ao ano, de acordo com o executivo. Em volume, é um mercado anual superior a 5 bilhões de reais. Em períodos normais. Neste ano, a demanda será duramente afetada pela pandemia.

O veículo leve sobre rodas 100% elétrico tem taxa zero de emissão e uma necessidade de manutenção muito inferior do que as unidades de combustíveis fósseis, segundo Pikussa. O projeto também é diferente: não há escadas, as portas são largas, o ar-condicionado é esterelizado com tecnologia de luz ultravioleta e a visão do motorista é toda computadorizada, sem espelhos retrovisores. Contudo, ainda é veículo muito mais caro e esse é o principal desafio desse mercado.

No caso de São José dos Campos, a prefeitura é quem fará o investimento, a compra dos ônibus propriamente, e a operação da frota será privada. “As cidades vão precisar se reinventar. A crise do transporte público do Brasil é fruto de um modelo totalmente incorreto e que precisará ser revisto. Nas maiores cidades do mundo, o transporte público é ou financiado ou subsidiado pelos governos.”

O executivo preferiu não comentar o valor do projeto da cidade paulista. Mas explicou que, em média, um ônibus elétrico custa entre 1,3 milhão de reais e 1,5 milhão de reais, enquanto um moderno a diesel, que tenha elevado controle de emissão, sai por no máximo 500 mil reais. “Por isso é tão importante que as cidades pensem em modelos alternativos de financiamento.”

Apesar da modalidade elétrica ter taxa zero de emissão, Pikussa destaca que dificilmente haverá uma solução única para uma cidade, mas sim uma combinação de modelos. “Em Londres, já há testes com ônibus movidos a hidrogênio. Cada cidade, cada topografia exigirá uma solução diferente.”

No primeiro semestre deste ano, a Marcopolo teve receita líquida de 1,7 bilhão de reais, uma queda de quase 16%. O desempenho foi afetado pela pandemia, que reduziu o uso de transporte público e congelou projetos. No intervalo de abril a junho, a queda na receita foi superior a 30%. O Ebitda no semestre totalizou 143 milhões, após recuo de 14%. O lucro líquido, porém, despencou quase 90%, para 12 milhões de reais. Além do Brasil, a companhia atua em 40 países.

Fonte: Exame