Já que a crise econômica levou algumas dezenas de empresas brasileiras à recuperação judicial (RJ), uma gestora nacional quer aproveitar a fase final desse ciclo para lançar um fundo inédito no país. A Latache Capital estruturou um veículo de investimento que visa financiar as companhias em RJ, para ajudá-las no plano de sair do buraco – quando nenhum banco quer conceder esse crédito de alto risco.
“Num período de dois anos, muitas dessas companhias ficaram no limbo. Elas pediram recuperação judicial, mas até pela lei precisam ficar dois anos nesse processo, e muitas tiveram discussões com credores que atrasaram a aprovação de seus planos de recuperação”, diz Renato Azevedo, sócio-fundador da Latache.
O fundo começa com R$ 50 milhões, com o propósito de financiar dez empresas. Esse tipo de financiamento é conhecido como “debtor-in-possession” ou “DIP” financing – daí o nome do fundo ser Latache DIP. Nesse financiamento, como aceita entrar em um negócio de risco alto, já que o plano de recuperação da empresa pode não dar certo, o credor tem prioridade em relação aos demais.
Não há um limite de endividamento da empresa, mas uma análise da capacidade de retomada de seu negócio, explica Azevedo. A Latache foi fundada em 2015, tendo como principal mercado a compra de dívida vencida para recuperação posterior, o crédito estressado. Por isso, já está habituada a esse tipo de avaliação.
“Temos um número grande de empresas que acompanhamos e que temos conforto de dar crédito novo para a operação”, diz Azevedo. Ou seja, como já acompanha o negócio como credor, pode elevar sua fatia na dívida, agora como prioritária. “São empresas que, mesmo no processo de recuperação judicial, continuaram gerando caixa. O que aconteceu com elas foi um desequilíbrio da estrutura de capital, com endividamento que se tornou impagável, mas que a operação segue funcionando”, explica o executivo.
A estrutura é de fundo de direitos creditórios (FIDC), com crédito por cédula bancária (CCB) ou debênture. A gestora começou a avaliar também oportunidades para investimento em participação acionária nessas empresas de balanço estressado – que se dará via fundo de participação (FIP).
Azevedo não revela o volume pretendido nessa operação de equity. No entanto, o Valor apurou que a Latache chegou a disputar uma participação acionária na Rodovias do Tietê, da qual é uma pequena credora. A empresa tem R$ 1,4 bilhão em dívida real, o que sinaliza metas ambiciosas da Latache nesse segmento.
A expectativa nesse tipo de negócio é de retorno elevado, dado o risco de capital. Em um fundo de “distressed” que teve ciclo de três anos encerrado no ano passado, com a devolução do capital aos investidores, a Latache entregou seis vezes o capital investido aos cotistas. A gestora tem R$ 500 milhões entre capital investido e levantado, ainda para aplicações, e tem discutido coinvestimentos com dois family offices.
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