A recente alta da taxa de juros Selic no Brasil tem gerado preocupações sobre o efeito no setor bancário, especialmente no que diz respeito à recuperação financeira.
A elevação dos juros, anunciada pelo Banco Central em setembro, marca o primeiro aumento em dois anos e ocorre em um contexto onde, globalmente, as taxas de juros estão em queda, como nos Estados Unidos e na Austrália.
No Brasil, o aumento da Selic coloca os bancos em uma situação delicada. Com o custo de captação elevado, a margem financeira – uma das maiores fontes de receita dos bancos – pode ser pressionada. A margem financeira, que reflete a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram ao conceder empréstimos, é uma das maiores do mundo. Contudo, essa elevação nas taxas impacta diretamente os lucros, especialmente porque parte significativa das carteiras de crédito bancárias possui taxas prefixadas.
Thiago Batista, analista da UBS BB Investimentos, destaca que os efeitos na alta da Selic podem ser prejudicial para os bancos. Segundo ele, uma taxa de juros mais baixa seria mais vantajosa, pois favoreceria o crescimento econômico e a expansão das carteiras de crédito. No entanto, com a Selic em alta, os bancos terão dificuldades em repassar os custos aos clientes, especialmente aqueles com empréstimos de longo prazo e taxas fixas.
Por outro lado, a experiência dos últimos ciclos de alta da Selic traz algumas lições para o setor bancário. Em 2021, o Banco Central elevou a Selic de 2% para 13,75% em apenas 17 meses. Apesar do impacto negativo nas margens financeiras dos bancos, eles conseguiram mitigar parte das perdas ao proteger suas exposições a taxas flutuantes. Neste novo ciclo, espera-se que a Selic não ultrapasse 12,5%, o que pode suavizar os efeitos negativos nas margens bancárias.
Enquanto os bancos brasileiros enfrentam a alta dos juros, a situação nos Estados Unidos segue uma direção oposta. O Federal Reserve reduziu as taxas de juros no mês passado pela primeira vez em mais de quatro anos, o que tem impulsionado as margens financeiras dos maiores bancos norte-americanos. Executivos, como Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, alertam que a bonança vivida no ano passado pode não durar, já que os lucros recordes foram resultado de condições econômicas excepcionais.
Selic pode travar crescimento da receita com crédito no Brasil:
No Brasil, a realidade é bem diferente. Com os juros altos, os bancos precisam lidar com custos elevados de financiamento, e suas carteiras de crédito não conseguem absorver totalmente esse impacto. Embora a inadimplência tenha atingido 3,2% em julho de 2023, a expectativa é que esse número cresça para 3,5% ou até 4% até o final do ano, o que aumenta a necessidade de provisões para perdas com empréstimos.
Apesar dos desafios, os maiores bancos do Brasil – Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander – têm conseguido expandir suas carteiras de crédito e aumentar suas margens financeiras. A expectativa é que a margem financeira cresça 7,7% no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. Esse crescimento tem sido impulsionado por empréstimos mais arriscados, como cartões de crédito e crédito ao consumo, que oferecem maiores retornos.
Felipe Prince, vice-presidente de controles internos do Banco do Brasil, observa que, apesar das dificuldades, a demanda por crédito segue forte.
Apesar disso, ele alerta que é necessária cautela, especialmente no segmento de micro e pequenas empresas, onde o risco é maior.
Os grandes bancos estão aprimorando seus modelos de risco e adotando uma abordagem mais seletiva na concessão de crédito.
O aumento da Selic apresenta desafios consideráveis para o setor bancário no Brasil, especialmente no que diz respeito à manutenção de margens financeiras saudáveis. Embora o impacto nos lucros seja marginal no curto prazo, a combinação de juros altos e inadimplência crescente pode pressionar ainda mais os bancos.
No entanto, com lições aprendidas de ciclos anteriores e uma abordagem cautelosa, os maiores bancos do país estão se preparando para enfrentar esse novo cenário econômico.
Diante da instabilidade financeira atual, especialmente com as variações na taxa Selic, é fundamental contar com a expertise do Grupo Studio.
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Fonte: Investe News.