Segundo um levantamento feito pela Associação de Restaurantes (ANR), desde o início da pandemia no Brasil, 42% dos bares e restaurantes foi obrigado a fechar as portas, resultando na demissão de mais de um milhão de trabalhadores no ramo.
Com o horário de funcionamento restrito, isenção de vendas protagonizadas por bebidas alcoólicas e até mesmo a proibição de funcionamento em diversas regiões, bares em todo o país tiveram que buscar alternativas para conseguir sobreviver.
Para falar mais sobre o tema, Filipe Pereira, um dos organizadores do Comida di Buteco, Fabio Aguayo, presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), e Marcos Livi, empresário empresária responsável pela Companhia de Gastronomia e Cultura, promoveram um talk do Hack pela Gostronomia, da coluna Bom Gourmet, mediado pela repórter Gisele Rech.
“A gente percebe que as pessoas querem sair de casa e trocar experiências principalmente porque o que elas vivem em um bar, não consegue ser substituído pelo que é vivido dentro de casa, ao fazer um pedido de delivery”, comentou Marco Livi, durante o bate-papo.
Para ele, é de responsabilidade dos proprietários dos estabelecimentos e seus colaboradores prepararam um ambiente capaz de sanar essa carência, ao mesmo tempo em que gera segurança. A forma mais simples de atender essa demanda, como ele revela, é estar bem conectado com o negócio e disposto a lidar com clientes saturados do confinamento e que precisam de amparo emocional.
Felipe Pereira está conduzindo sua relação com outros empresários da mesma forma. Segundo ele, perante o adiamento do concurso Comida di Buteco (previsto para abril) surgiu, também, a necessidade de estreitar a relação com os proprietários de estabelecimentos.
“Mesmo que a gente não tenha muitas soluções práticas no momento, não podemos esquecer que o simples cuidado um com o outro pode fazer toda a diferença. Às vezes, ligamos para um empresário exclusivamente para saber como ele está, e essa preocupação pode ser o que, naquele dia, faz ele se sentir mais esperançoso”, pontua.
Pereira ainda sugere que o momento é propício para que empresários repensem gastos e refinem a gestão dos negócios. Os clientes, de acordo com ele, também estão fazendo isso (e, consequentemente, economizando mais), o que reforça a urgência em compreender onde é possível gastar menos.
De olho nas origens
Uma solução que seu mostrou muito útil, é adicionar ao conceito de bares a ideia de empório ou mercenária. A origem dos bares, vem justamente disso: pequenos comércios onde as pessoas se reuniam para comprar utensílios do dia-a-dia e acabavam aproveitamento para socializar.
Para Aguayo, o resgato dessa cultura, que também é muito familiar, oferece uma alternativa aos negócios que se adequa às restrições sanitárias. “Ao ser responsável por todo o seu giro de capital, o estabelecimento economiza com taxas de aplicativos de entrega e reduz um pouco a concorrência com produtores paralelos que atendem outras regiões”, explica.
Tendência
Para muitos empreendedores, a pandemia gerou uma mudança na forma de consumir. Dados revelam que, ao mesmo tempo em que o gasto com bares e restaurantes diminuiu, ocorreu um aumento significativo no consumo em supermercados, pedidos de delivery e bebidas alcoólicas.
Na visão de Filipe Pereira, a alternativa do delivery é positiva, se pensada como um canal complementar da receita que poderá ser mantido no pós pandemia. Todavia, justamente por não responder a expectativa do consumidor no que diz respeito à experiência, o delivery não substituirá as atividades sociais dos estabelecimentos.
Seguindo essa premissa, Marcos Livi explica que a alternativa do delivery sugeriu uma falsa impressão de que os bares estão sendo capazes de lidar financeiramente com a crise. Segundo ele, ao mesmo tempo em que os estabelecimentos não estão alcançando a receita desejada, estão gastando mais com descartáveis.
Ele também comenta que estes gastos não devem ser repassados para o consumidor final, pois isso gera insatisfação e a possível desistência em consumidor no bar, especificamente.
Informação
Para os participantes do talk, mais do que nunca, o setor da gastronomia carece de pesquisa. A conexão dos estabelecimentos com seus clientes por meio da informação, segundo eles, pode ser uma solução para o momento atual e outras crises que estão por vir.
Ao mesmo tempo que todos eles reconhecem a importância da fiscalização, sobretudo sanitária, demonstram insatisfação com as medidas punitivas adotadas e sugerem que elas devem focar mais na orientação sobre como proceder.
Fonte: Gazeta do Povo