O Agrocenário 2021, evento organizado pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e pela Corteva, contou com a participação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Em entrevista, ela fala sobre temas importantes para o agronegócio e projeta o que vem pela frente.
Confira alguns trechos:
- Estiagem no Sul
De acordo com a ministra, a seca foi mais severa no Rio Grande do Sul. No oeste de Santa Catarina, apesar de terem atrasado, as chuvas têm retornado e favorecido a agricultura local.
“No Rio Grande do Sul, onde tivemos a seca mais severa, estamos trabalhando para que os produtores que tiveram perdas acima de 60% tenham como replantar. Que eles possam utilizar aquela massa que não irá produzir, mas que serve para alimentação animal, e depois plantar nesta área a mesma cultura ou outras. Que eles possam ter um pedaço do financiamento, pelo menos para as novas sementes, óleo diesel, mão de obra etc”, diz.
Tereza Cristina afirma também que o Proagro e o seguro rural são importantes para apoiar os produtores que tiveram perdas por conta da seca.
- Crédito para investimento
A ministra da Agricultura afirma que já conversou com o presidente Jair Bolsonaro e está dialogando com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para saber se é possível fazer um novo aporte, de R$ 4 bilhões, para equalização das linhas de investimento.
“Estamos em um momento fiscal complicado. Estamos no fim do ano, e o Congresso ainda não aprovou o Orçamento [para 2021]. Estamos conversando para ver o que é possível fazer neste ano ou no começo do ano que vem”, conta.
Segundo Tereza Cristina, neste ano os produtores rurais foram em busca de crédito para investimento mais cedo. “É um bom problema, porque mostra que o setor está acreditando. O setor quer produzir mais e investir. Ficamos muito satisfeitos no governo quando a gente vê o agricultor tomando dinheiro e podendo investir no seu negócio, e também investindo com recursos próprios”, diz.
- Importação de grãos
“O Brasil precisa começar a se acostumar, pois o mercado internacional e a globalização são coisas de mão dupla”, afirma a ministra, ao defender as importações de grãos. Segundo ela, sendo um grande player internacional, o país precisa utilizar ferramentas como a retirada da Tarifa Externa Comum (TEC) quando for necessário para abastecer o mercado interno. “Os EUA e China, que são os dois maiores exportadores, também são os maiores importadores de produtos agrícolas”.
Tereza Cristina ressalta que esse não é o único mecanismo estudado pelo governo para garantir o abastecimento interno. “Isso não quer dizer que a gente vai ter que fazer. É sempre bom ter esses estudos prontos, caso necessário. Mas não existe nada hoje mostrando que teremos que importar mais nada”, afirma.
- Demanda internacional por produtos do agro
A ministra acredita que o Brasil vai continuar sendo destaque no mundo, pois é um dos poucos países com potencial para aumentar a produção de alimentos, tanto de grãos quanto de carnes.
“Agora, é claro que o mundo depois da Covid-19 será um outro mundo. A Europa já vem com demandas especiais porque o seu consumidor quer a rastreabilidade, a sanidade. É uma coisa importantíssima na qual o Brasil tem uma excelência, e nós temos que continuar a trabalhar porque o consumidor exige”, destaca.
- Reputação do Brasil
Segundo a ministra, as imagens dos incêndios no Pantanal são chocantes. Mas isso não é um cenário exclusivo do Brasil e está atrelado à forte estiagem que o país enfrenta, diz. “Nós temos, no Pantanal, a maior seca dos últimos 50 anos, mas temos que saber que isso também aconteceu na Argentina, nos nossos vizinhos. É uma seca que assola a América do Sul. Nós estamos entrando num ciclo de seca. O Paraguai teve problemas sérios de incêndios”, frisa.
Tereza Cristina diz que o Brasil acaba sendo alvo por ser uma potência. Ela defende que os números e informações sejam divulgados, mas que também se discuta a verdade por trás dos incêndios – quais são frutos de atos criminosos e quais são causados pela seca.
A ministra é enfática ao dizer que a agropecuária não é a vilã do meio ambiente. “Nenhum produtor de excelência, produtor que investe em tecnologia, quer ter qualquer tipo de incêndio em sua propriedade. A gente precisa desmistificar que o agro brasileiro precisa queimar, desmatar”.
Na semana passada, o Ministério da Agricultura lançou o PronaSolos, um programa com informações sobre o solo brasileiro. Segundo dados compilados no sistema, o Brasil possui 50 milhões de hectares de solos degradados, que são de pastagens e que podem ser recuperados com técnicas já conhecidas pelo produtor. “Nós temos a capacidade de dobrar a produção do Brasil só nesse espaço que já temos abertos. A gente não precisa abrir mais nada para produzir muito e bem, e a gente precisa mostrar isso ao mundo”, afirma.
- Novos mercados para o agro em 2021
Tereza Cristina afirma que há três grandes acordos que podem ser fechados no ano que vem, sendo o principal deles o acordo entre Mercosul e União Europeia. De acordo com a ministra, o texto está sendo traduzido e deve ser discutido pelos parlamentos de todos os países envolvidos nos próximos meses.
“O Brasil vai continuar trabalhando em abertura de outros mercados e, principalmente, aumentando essa base de produtos, para os países que já temos acordo. Para não ficarmos só na soja, milho ou suco de laranja. Temos outros produtos que podemos abrir novos mercados (gergelim, pulses, feijão etc.)”, conta.
- Registro de máquinas agrícolas
A ministra reforça que o ID Agro, lançado no mês passado pelo governo, é apenas um cadastro gratuito para o produtor. “Pode ajudar e muito aqueles produtores que têm que transitar por estradas vicinais. Com esse cadastro, ele está livre de ter problemas, como máquinas apreendidas e multas muito grandes. Tenho visto muita gente falando, mas não existe perigo no ID Agro, e pode trazer benefícios e facilidades na hora de vender ou de encontrar máquinas roubadas”, diz.
- Aumento do imposto
Muitos produtores estão preocupados com um possível aumento de impostos sobre o agronegócio em meio à reforma tributária. Segundo Tereza Cristina, isso seria ruim para o consumidor final, que veria os preços dos alimentos subirem, e para as exportações, já que os produtos brasileiros perderiam competitividade.
“Já conversei com alguns ministros e técnicos, e isso não é uma coisa que está no radar deles. Existe uma discussão enorme entre as entidades se o agro estaria dentro da reforma tributária ou não”, relata.
- Prioridades
Muitos produtores estão preocupados com um possível aumento de impostos sobre o agronegócio em meio à reforma tributária. Segundo Tereza Cristina, isso seria ruim para o consumidor final, que veria os preços dos alimentos subirem, e para as exportações, já que os produtos brasileiros perderiam competitividade.
“Já conversei com alguns ministros e técnicos, e isso não é uma coisa que está no radar deles. Existe uma discussão enorme entre as entidades se o agro estaria dentro da reforma tributária ou não”, relata.
Fonte: Canal Rural