Organizar a sucessão é um dos principais desafios para a gestão das famílias empresárias brasileiras. Especialistas acreditam que os negócios que passam de geração para geração precisam estabelecer com antecedência um plano estruturado de mudança de comando para garantir a longevidade. Esse foi um dos assuntos em debate no Conexão Conami, evento online organizado pela Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), que foi realizado nos dias 14 e 15 de outubro.

Discutiram sobre “Sucessão familiar em empresas do mercado imobiliário”, os professores Eduardo Najjar, especialista em governança, compliance e sucessão de negócios familiares, e Fabio Matuoka Mizumoto, mestre e doutor em Administração pela FEA-USP e especialista no desenvolvimento de empresas familiares, abordaram importância da estruturação de boas práticas de governança corporativa para o negócio, preparação de herdeiros, relações familiares e societárias e quais são as consequências de uma transição mal planejada para as empresas.

Apegada ao legado, a geração que está à frente das empresas familiares é mais resistente quando o assunto é a passagem do bastão. Na visão de Mizumoto, quanto mais cedo à companhia estruturar o planejamento, mais tempo o sucedido terá para preparar a nova geração, acompanhar os negócios, alinhar as expectativas e combinar como devem ser os próximos passos. “Se o plano é feito com antecedência, a nova geração que chega para comandar a empresa terá, ainda, a chance de apreender com quem vem fazendo de fato o negócio evoluir nos últimos anos. Negócios vão à falência por problemas na sucessão mal planejada”, explica.

Um dos principais motivos que dificultam a transmissão do comando da empresa envolve a falta de confiança no trabalho de quem vai assumir o negócio, principalmente em momentos de incertezas econômicas sem precedentes. A atual crise que o Brasil atravessa por conta do avanço do novo coronavírus serviu de gatilho para que fundadores, que já tinham feito o processo de sucessão, voltassem ao comando de seus negócios. “Muitos têm a visão de que vão salvar a empresa e acreditam que, como a nova geração não passou ainda por nenhuma crise, não tem experiência para atravessar períodos de dificuldades. É uma visão equivocada”, alerta o professor Mizumoto.

Regras na empresa

A implementação de boas práticas de governança corporativa, independentemente do tamanho do negócio, é fundamental para estabelecer regras para os assuntos societários e empresariais e criar estruturas de gestão para auxiliar as famílias. “Os conselhos consultivo ou de administração são instrumentos importantes para tratar de decisões sobre o futuro da empresa”, explica o professor Eduardo Najjar.

As empresas podem se apoiar também no protocolo familiar que estabelece regras para administrar os conflitos entre os integrantes da família empresária, que ficam mais preparados para superar os desafios e as incertezas. “Aprendi com Mário Ceratti e observo na prática a utilidade dessa orientação: boas cercas, bons vizinhos. A empresa precisa ter regras para tudo”, afirma Najjar.