Apenas quatro dias após a oferta inicial de ações (IPO) da startup de cashback Méliuz, foi a vez do marketplace de produtos usados Enjoei estrear na bolsa e, de lá para cá, os seus papéis vêm esbanjando valorização. Na mesma toada, a loja de móveis Mobly abriu capital, em seu primeiro pregão, avançou 25%.

A entrada de companhias jovens na bolsa mostra, por um lado, que elas estão buscando alternativas para se capitalizar e crescer e, por outro, que os investidores têm recebido bem as ofertas — até porque o número de empresas de tecnologia ainda é pequeno na B3 em comparação com o mercado americano, por exemplo. Mas ainda há desafios para que startups façam IPO com mais frequência.

Tanto é que a Wine, clube de assinatura de vinhos, e a Housi, de aluguel de imóveis, protocolaram o pedido de abertura de capital junto à CVM em 2020, mas decidiram adiar a operação.

Apesar do cenário difícil na economia, 2020 promoveu uma série de oportunidades no mercado financeiro. Com liquidez altíssima e taxas de juros em patamares historicamente baixos, investidores migraram para modalidades de investimento que não a renda fixa.

Bolsa tecnológica

Antes de abrir capital, qualquer empresa precisa arrumar a casa. Isso significa implementar governança corporativa e ter uma área de relação com os investidores estruturada.

A vantagem das startups é que a preparação para a listagem na bolsa começa muitos anos antes, quando recebem os primeiros aportes de investidores e fundos de investimento.

“Os fundos de venture capital [que investem em startups querem que o negócio escale rapidamente”, diz Fernando Escobar, sócio da Peers Consulting, especializada em IPOs e M&As. “Algumas empresas precisam criar este evento de liquidez para que os seus investidores iniciais consigam realizar lucros e diminuir riscos. Um fundo que investiu em uma companhia lá atrás, há oito, dez anos, pode apoiar o movimento para colher resultados ou diminuir prejuízos.”

A etapa seguinte no processo de IPO — depois dos trâmites regulatórios — são os encontros com bancos e investidores institucionais. Durante as visitas, a empresa apresenta números, indica as expectativas para o setor e detalha em que deve usar o dinheiro que pretende captar.

Crescimento

Mas, se entrar na bolsa não é fácil, crescer, gerar lucro e ainda dar retorno para os acionistas é ainda mais complexo. Twitter, Uber, Spotify e DoorDash são apenas alguns exemplos de companhias que vivenciam esse desafio trimestre após trimestre.

A vantagem é que, em muitos casos, os investidores são pacientes. Eles entendem que na fase de crescimento a empresa precisa “queimar caixa” para conseguir escalar o negócio como um todo. Foi assim com a Amazon durante os seus primeiros 10 anos na bolsa americana.

No caso do Méliuz, que já possui lucros operacionais, a expansão tem vindo através do mercado de pagamentos. Em parceria com o Banco PAN, a marca oferece um cartão de crédito sem anuidade e com até 1,8% de cashback em cada compra feita online (até 0,8% em compras regulares e mais 1% em lojas parceiras da marca). Já foram solicitados mais de 3 milhões de cartões desde o lançamento do produto, no final de 2019.

O Enjoei também vem trabalhando uma outra fonte de receita: sua carteira digital. O enjuBANK, como é chamado, permite que o usuário receba pagamentos e mantenha dinheiro em conta para ser utilizado em compras no site ou para ser sacado. Uma taxa de R$ 1,50 é cobrada para cada saque abaixo de R$ 200; a manutenção da conta custa R$ 9,99 mensais.

Fonte: CNN Brasil