A pandemia impulsionou o uso de ferramentas digitais na educação. Agora, startups do segmento, conhecidas como ‘edtechs’, começam a receber investimentos para ampliarem suas operações. É assim que a Descomplica, mais conhecida por atividades de reforço para Enem e vestibulares, anunciou que recebeu um aporte de US$ 84,5 milhões (cerca de R$ 450 milhões) – segundo a empresa, é o maior do segmento já feito na América Latina.

A rodada foi capitaneada pelo Invus Group, que já havia liderado outras rodadas na empresa, e pelo grupo japonês SoftBank. O Valor Capital Group, que também já havia feito investimentos em rodadas anteriores na startup, voltou a participar. Além dos três nomes, dois novos investidores chamam a atenção: The Edge, guitarrista do U2, e a Chan Zuckerberg Initiative, empresa de investimento de impacto social da família do fundador do Facebook. A Península Participações, de Abílio Diniz, fechou o time de investidores. Essa foi à quinta rodada de investimentos da empresa – a última havia sido em 2018 e trouxe R$ 54 milhões.

Fundada em 2011 pelo professor de Física Marco Fisbhen, a Descomplica ficou conhecida por suas ferramentas de preparação para o Enem e para vestibulares – além das aulas em ambiente digital, a companhia utiliza dados e inteligência artificial para tentar atender as demandas educacionais dos alunos. No ano passado, porém, a companhia inaugurou um novo capítulo em sua história com a Faculdade Descomplica, que traz cursos de graduação e pós-graduação 100% digitais por mensalidades entre R$ 200 e R$ 220 (graduação) e R$ 800 e R$ 1.000 (pós-graduação). O braço de ensino superior começou com quatro cursos de graduação no ano passado – serão lançados mais 15 neste ano e outros 18 em 2022. A pós-graduação já conta com 300 programas e deve chegar a 500 até o final do ano.

Tudo isso deve ampliar a base de 5 milhões de usuários mensais – é um momento que pode ser comparado à evolução do U2 do disco The Unforgettable Fire, quando era uma banda muito promissora, para o clássico The Joshua Tree, quando se tornou um dos maiores nomes do seu segmento. O dinheiro chega para ampliar o investimento em tecnologia, permitir a ampliação do portfólio e energizar aquisições de startups menores – o time que cresceu de 300 para 600 pessoas em 2020 deve chegar a 1.000 até o final deste ano.

O montante para isso é de respeito. Segundo um ranking da empresa de inovação Distrito, essa é a maior cifra já levantada por uma edtech brasileira num investimento de capital privado – o segundo lugar também é da Descomplica: US$ 16,3 milhões em 2018. Apenas a Arco Educação levantou valor maior (US$ 194 milhões) entre as startups brasileiras de educação, mas isso ocorreu na oferta inicial de ações realizada em 2018.

“A pandemia trouxe uma exposição contundente à educação digital. No ano passado, tinha mais gente disposto a encarar aquilo que a educação digital tem de bom e de ruim. Num segundo momento, houve uma separação entre aqueles que têm soluções disruptivas e modernas e aqueles que têm soluções antiquadas”, diz Fisbhen. “Queremos manter o foco para continuarmos ganhando espaço”, diz.

Fonte: Estadão.