Mesmo com todos os efeitos adversos da pandemia, a indústria da cana, açúcar e etanol passa por um momento positivo na safra 2020/2021. De acordo com consultor Julio Borges, um conjunto de eventos favoráveis que vão desde as boas condições climáticas para a colheita até o câmbio, fez com que as exportações de adoçantes aumentassem mais de 80% nesta temporada.

Ainda com os preços médio do etanol, que sentiu mais forma mais abrupta os efeitos da pandemia do novo coronavírus, superaram patamares de 2 reais por litro na usina do centro-sul, e são suficientes para arcar com todas as despesas, mesmo que o consumo tenha reduzido em 2020, revelou Borges.

“Quanto ao açúcar, a situação atual é mágica, graças a uma condição de déficit de oferta global observada na safra mundial 2019/20. Esta condição recuperou os preços do açúcar no mercado internacional e o real bastante desvalorizado completou a situação de sucesso”, complementou o consultor.

Em conversa com à Reuters, Julio Borges ainda disse que as exportações brasileiras de açúcar no acumulado da safra entre abril e setembro cresceram 82%, para quase 18 milhões de toneladas. O país figura como o principal player global na commodity.

No cenário do mercado interno – que representa uma parte menos das vendas no segmento -, o preço médio do açúcar no estado de São Paulo, chegou a 73 reais a cada de 50 kg nos primeiros meses de safra, valor que remunera custo do capital próprio e de terceiros. Atualmente, o preço costuma ficar em torno de 90 reais a saca.

Borges ainda destaca que com a forte demanda pelo açúcar, cerca de 47% da produção de cana está sendo dirigida à fabricação de açúcar em 2020/21, ante 35% na temporada passada, uma “flexibilidade” que é exclusividade brasileira.

Apesar da grande produção de açúcar, não se tem uma previsão de excedente que possa gerar pressão de oferta no mercado regional, com a exportação nesta safra remunerando o produtor entre 3% e 10% acima do mercado interno, o que indica cotações firmes nos próximos meses.

Em alternativa, Borges aponta que o fato de as usinas estarem focadas no açúcar, fez com que a demanda de etanol ficasse restrita, ajudando na recuperação dos preços, que despencaram entre abril e setembro, devido às medidas de isolamento social contra o novo coronavírus.

Até o mês de setembro, o preço médio do etanol na safra na usina era de 1,63 reais por litro, 9 centavos a menos que o nível recorde de consumo e produção da safra anterior. O preço no mês de outubro saltou para mais de 2 reais, enquanto a cotação média em setembro era de 1,79 reais e a cotação média anual em abril girava em torno de 1,30 reais/litro.

Borges revelou também que devido ao clima seco, o rendimento industrial aumento 4,4%, o que também contribuiu para a redução dos custos. O preço atual da cana está em cerca de 119 reais/tonelada, um nível que não se via há um bom tempo.

Fusões e aquisições

Essa situação trouxe uma condição favorável para o setor que pode até mesmo resultar em uma maior consolidação, com fusões e aquisições (M&A na sigla em inglês) de empresas com dificuldades financeiras, sendo incorporadas por companhias mais capitalizadas.

No passado recente, os preços dos combustíveis no Brasil foram controlados por meio de ações da Petrobras, e muitas empresas foram obrigadas a buscar recuperação judicial ou aumentar significativamente suas dívidas.

Borges destacou que a situação agora é diferente e que essa situação deve atrair capitais estrangeiros para investir nos negócios de açúcar e etanol no Brasil. Disse ainda que vê que “a produção está mais concentrada porque no caso de condições económicas e financeiras frágeis, fábricas com melhor desempenho irão fundir-se com outras empresas concorrentes”.

Em setembro, a notícia de que a Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, começava a adquirir a Biosev, subsidiária de açúcar e etanol do Grupo Luis Dreyfus, chamou a atenção do mercado.

Tanto Raízen quanto Biosev estão entre as líderes do setor no país. Todavia a Biosev possui uma dívida em moeda estrangeira que impacta negativamente seus resultados. No final do último trimestre fiscal da Biosev, a dívida líquida era de 7,3 bilhões de reais.

Fonte: Terra