O segundo homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, é conhecido por negócios como o grupo de bebidas AB InBev. Mas, recentemente, o empresário e investidor revelou que é um entusiasta das startups.

No aniversário de cinco anos do espaço de empreendedorismo Cubo Itaú, deu sua percepção sobre o avanço do ecossistema brasileiro de negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos. Jorge Paulo Lemann se uniu a Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, em um painel gravado para o evento Cubo Conecta.

Lemann listou alguns destaques dos últimos cinco anos. Além do Cubo Itaú, tivemos a criação de fundos brasileiros, como o Maya Capital (da filha Lara Lemann); a chegada de fundos estrangeiros, como o do conglomerado japonês SoftBank; e a abertura de empresas latino-americanas na bolsa de valores, como Mercado Livre e Stone. Todos esses fatores teriam aumentado à quantidade de pessoas se tornando empreendedoras e criando às próprias startups.

“Eu acho um espetáculo o que aconteceu nos últimos anos no país. Se eu fosse jovem, me dedicaria totalmente a isso [criar startups]”, disse Lemann. “Infelizmente, não sou tão jovem e tenho que carregar uns negócios nas costas (risos). Se não fosse isso, estaria me jogando de peito aberto no ramo tecnológico.”

Para o empresário e investidor, a reclamação comum de que falta capital para startups brasileiras está bem mais controlada atualmente. “Há cinco anos, o empreendedor não encontrava ninguém para bancar sua ideia. Hoje, tem até um exagero. Falou que é startup, que é novidade, está cheio de dinheiro procurando o investimento do momento.”

Outros gargalos conhecidos permanecem, na visão de Lemann: a burocracia para criar empresas, para contratar e para demitir. “Mas, francamente, acho que estamos indo bem”, disse. “O país está cheio de oportunidades e de empreendedores querendo encontrá-las. O Brasil andando ou não, essa parte continuará seguindo em frente.”

A adaptação das grandes empresa

Enquanto isso, as empresas tradicionais que Lemann aconselha ou nas quais investe precisam se adaptar. “Tínhamos empresas eficientes, com produtos conhecidos, com logísticas boas e com cortes de custos. Vivíamos bem. Mas esse mundo tecnológico trouxe um acesso maior do consumidor a informações e a produtos novos”, disse o empresário e investidor. “Nossos canais de distribuição e de prestação de informações precisaram se transformar muito, e ficamos conscientes disso um pouco tarde. Não éramos ligados no que o consumidor queria e estamos correndo atrás agora.”

Lemann dá como exemplos marcas como Nike, Starbucks e Zara. “Tem gente que vende commodity é muito bem-sucedido. Isso porque sabe o que o cliente quer e como tratá-lo. (…) Bancos e cervejas são bons negócios. Temos de melhorar o que fazem e suas culturas para que esses negócios continuem bons por mais 50 ou 100 anos.”

A adaptação ao mundo tecnológico passou por um novo filtro de funcionários e pela separação entre o tradicional e o inovador na AB InBev. “As pessoas excepcionais que você tinha, boas de logística ou cortar custo, não são necessariamente as melhores para entender o cliente ou saber o que ele vai querer daqui a cinco anos. Temos de mudar a cultura da empresa e estar mais prontos para criar inovações e saber como medir quando elas são boas ou não”, disse Lemann.

Fonte: Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios