Categoria(s) do post: Geral | Sociedade

O Rio Grande do Sul vêm se destacando no ramo de fusões e aquisições. O número de M&A (sigla em inglês) cresceu aproximadamente 10% no último ao, se comparado com o ano anterior. Em 2019, foram concretizadas 58 transações no Estado, e em 2018 53.

Fusões e aquisições no país

O número de fusões e aquisições no setor de óleo e gás manteve-se estável em 2019, em comparação ao ano anterior. Com diminuição de apenas duas operações em relação ao volume de 2018 (46), o segmento concretizou 44 transações no último ano. Os dados são de pesquisa da KPMG realizada com 43 setores da economia brasileira.  Dentre as transações em 2019, 27 foram do tipo CB1, ou seja, realizadas por empresas estrangeiras que adquiriram empreendimentos de brasileiros estabelecidos no Brasil e apenas nove foram domésticas.

Também se concretizaram: cinco operações de categoria CB5, isto é, empresas estrangeiras adquirindo de brasileiros empreendimentos estabelecidos no exterior; duas do tipo CB3, empresas brasileiras adquirindo empreendimentos de estrangeiros estabelecidos no Brasil; e uma de categoria CB4, em que empresas estrangeiras adquirem empreendimentos de estrangeiros estabelecidos no Brasil.

Segundo o levantamento realizado em 2019, o setor de empresas de internet manteve a liderança, saltando de 169 operações em 2018 para 293 em 2019, uma alta de 73%, seguida pelas áreas de tecnologia da informação (158), hospitais e laboratórios de análises clínicas (87), imobiliária (77), outros setores (72), alimentos, bebidas e fumo (52) e companhias de energia (51). Com relação à questão geográfica, a pesquisa apontou que as regiões Sudeste e Sul do Brasil foram as que mais se destacaram, com as respectivas operações de fusões e aquisições em cada Estado destacadas a seguir: São Paulo, 750; Rio de Janeiro, 119; Paraná, 73; Minas Gerais, 60; Rio Grande do Sul, 53; e Santa Catarina, 44.

Luís Motta, sócio-líder da área de Fusões e Aquisições da KMPG no Brasil, salienta que as empresas brasileiras têm apresentado mais apetite para estabelecer seus planos de expansão no país. “Os dados sinalizam, ainda, que o Brasil passou a ter maior relevância na rota dos investidores estrangeiros a partir deste ano”, completa.

Motta também fala que: “empresas nacionais e estrangeiras têm adotado fusões e aquisições como estratégia de crescimento e fortalecimento dos negócios no Brasil”. Para ele, é importante o investimento em inovação de modelos de negócios tradicionais, através de investimentos dos fundos de venture capital, em empresas voltadas para o ramo de tecnologia e internet.

O crescimento no número de fusões e aquisições e a expectativa de crescimento em 2020, trazem muitos assuntos sobre o tema, inclusive, a necessidade das empresas brasileiras em estarem cada vez mais prontas para esses tipos de processos.

Em conversa com o Jornal do Comércio, Eduardo Gonzaga de Oliveira Natal, especialista em Estratégicas Societárias e Sucessórias pela FGV, ressaltou que: “esse movimento está muito aparado no baixo valor da nossa moeda. Isso significa que há uma disposição deste volume de se manter ao longo do ano, tendo em vista que o real segue em ritmo de queda”.

Segundo informações passadas pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil passou da sexta para a quarta posição entre os principais destinos de investimentos estrangeiros no mundo em 2019. Foram recebidos U$ 75 bilhões em recursos externos, já em 2018, o valor não passou de U$ 60 bilhões.

O baixo valor do real é um dos aspectos mais atrativos para os investidores. Natal ainda conta que: “outro aspecto é o arrefecimento da economia internacional, o que desvia o foco para países como o Brasil. Sem mencionar o nosso mercado consumidor, de mais de 200 milhões de pessoas”, comenta.

Questões como a Reforma da Previdência, a MP da Liberdade Econômica, a possibilidade de ocorrer uma reforma administrativa e as privatizações em vista, também são aspectos que reforçam a confiança de investidores de outros países no Brasil.

Para ingressos no processo de fusões e aquisições é preciso estar bem preparado. O ideal é possuir uma consultoria especializada no tema. “Levando em conta que as médias e pequenas empresas estão, especialmente, na mira dessa tendência, é importante o empresário brasileiro fazer a lição de casa e colocar a casa em ordem, antes mesmo que comece a due diligence”, esclarece Natal.

O processo é complicado e exige diversas análises. São elas de contigências civis, trabalhistas, tributárias, regulatórias, e também, projeção do que poderá se tornar um obstáculo no futuro, em resultados das boas práticas ou não.

O ideal é estar preparado e saber que a operação é melindrosa e pode demorar mais do que o tempo esperado. O advogado George Leandro Luna Bonfim, especialista em assessoria para fundos de Private Equity e Venture Capital, salienta que: “a operação de M&A é bastante complexa e não ocorre em 30 ou 60 dias. Muitas vezes a empresa precisa passar por um estágio de saneamento, de auditoria financeira, jurídica, fiscal, precisa compreender os estágios do processo”, finaliza Bonfim.

Pensando em 2020

O escritório Baker McKenzie e Oxford Economics em conjunto com o escritório Trench Rossi Watabe, realizou uma pesquisa global que mostrou o ano de 2020 ainda devagar se comparado com o volume de fusões e aquisições públicas iniciais de ações no país.

Lara Schwarztann, que é sócia do Trench Rossi Watanabe, revela que: “a expectativa de aprovação de importantes reformas para endereçar o déficit fiscal e proporcionar um ambiente de negócios mais favorável no Brasil vem impactando de maneira positiva as transações no país”.

A especialista ainda salienta que as incertezas políticas e econômicas que os países situados na América Latina enfrentam, afetam a decisão dos investidores estrangeiros de investir no mercado nacional, a fim de não correr riscos.  De acordo com a pesquisa que foi realizada em nível mundial, o aspecto é de redução de cerca de 9% em M&A em relação a 2019 no mesmo período.

Para falar de números e valor, a movimentação equivalerá a uma baixa de US$ 40,4 bilhões em 2019 e para 2020, R$ 37 bilhões em 2020. Para IPOs, o levantamento aponta a diminuição de 32% em valores renegociados, partindo de US$ 1.46 bilhão em 2019 para US$ 1 bilhão em 2020.

Um contexto para 2021-2022 também é mostrado com perspectiva de quer às fusões e aquisições no país podem ultrapassar US$ 40 bilhões e US$ 47 bilhões. Sobre esse panorama, Lara comenta que: “a tendência é que a economia brasileira se recupere gradativamente conforme importantes reformas, como a da previdência e subsequente a tributária, sejam aprovadas, refletindo em um aumento a curto e médio prazo no volume das transações,” completa.

Em termos globais, a pesquisa indica uma queda nas M&A. A média global de redução para 2020, em relação com 2019, em fusões e aquisições é estimada em 25% – variação de US$ 2,8 trilhões para US$ 2,1 trilhões. IPOs também ficam expostos a um impacto importante no período, uma queda de 23%, indo de US$ 152 bilhões para US$ 116 bilhões, se descontados os efeitos da potencial listagem da Saudi Aramco, que representará um grande volume financeiro.

Lara também ressalta que um dos grandes motivos para esse contexto são as incertezas da guerra comercial que acontece entre Estados Unidos e China – e uma economia global em desaceleração. A especialista finaliza dizendo que: “ no entanto, as operações de fusões, aquisições e IPOs seguem sendo uma relevante manobra de aumento para empresas globalmente e espera-se que as condições econômicas melhorar a partir de 2021”.

Fonte: Jornal do Comércio