Uma casual queda na Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, acontecerá mais rapidamente se uma conjuntura de fatores ocorrer nos próximos meses.
Entre os fatores, segundo especialistas, que podem contribuir para essa queda está a apresentação de uma nova âncora fiscal aceitável para substituir o teto de gastos, uma reforma tributária consistente e indicadores de inflação dentro de uma margem esperada.
O debate entre o governo brasileiro e o Banco Central (BC) sobre o recuo da Selic envolve tanto a visão de acelerar o crescimento econômico, por parte do Executivo, quanto de controlar a inflação, meta da entidade independente.
No entanto, de acordo com especialistas, o arrefecimento entre Lula e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve ajudar o decréscimo dos juros no final deste ano.
“Sem pressão política, acredito que se o governo entregar uma regra fiscal crível, por mais que seja dura, e ao mesmo tempo ir caminhando uma reforma tributária, acho muito provável que o Banco Central reduza a taxa [Selic] nas duas últimas reuniões do ano”, afirmou o economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo.
Para o economista, é preciso tentar conciliar os objetivos de colocar a inflação dentro da meta e fazer com que o país tenha crescimento econômico, sem comprometer a atuação do Banco Central contra a alta dos preços.
“A harmonia entre as políticas econômicas é necessária para o país avançar. Portanto, diálogos entre Haddad, Campos Neto e a Tebet são fundamentais para a realização de uma agenda econômica robusta, visto que são três integrantes do CMN [Conselho Monetário Nacional]. Este seria um cenário muito positivo, em que todos os objetivos seriam entendidos e aprimorados para se chegar às conclusões”, pontuou.
Já para o analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, Flávio Conde, as tensões entre o presidente da República e o presidente do Banco Central sobre o nível dos juros não são atípicas no Brasil, e em determinado grau “são discussões saudáveis” para a democracia.
Conde acredita ainda que, além de uma âncora fiscal crível e o andamento da reforma tributária, o cenário ideal para o início da queda da Selic é a divulgação do IPCA rondando em torno de 0,3% e 0,4% ao mês.
“Se tivermos três meses consecutivos do indicador neste nível, a parte técnica para a Selic ser reduzida começa a ser viabilizada. Mas se o indicador não conseguir chegar a este patamar não é aconselhada a redução”, afirmou.
A troca de farpas entre governo federal e Banco Central não fez o Inter mudar sua projeção para a taxa Selic, que, na projeção do banco, tem ainda espaço para começar a cair em agosto, conforme a inflação perde força rápido, e terminar 2023 aos 12%.
A taxa está, atualmente, em 13,75%.
O erro, na visão da casa, esteve em inflamar a discussão antes de o governo apresentar a nova âncora fiscal, o que pode dificultar o caminho de descompressão dos juros.
“O principal erro no debate é antecipar uma discussão sobre a meta de inflação antes da apresentação da nova âncora fiscal”, disse o Inter em relatório a clientes, assinado pela economista-chefe Rafaela Vitória.
Vitória conclui dizendo que as incertezas no cenário acabaram se acentuando a respeito das políticas econômicas do governo que, ao que tudo indica, devem ser mais expansionistas e manter a inflação maior no longo prazo, resultando em uma Selic terminal maior.
Os especialistas destacaram que a alta da inflação, e consequentemente dos juros, é um problema enfrentado no mundo todo, mas particularidades de BC e Fed dão contornos diferentes para as discussões no Brasil e nos Estados Unidos.
“A questão nos Estados Unidos é diferente, pois no mandato do Fed é especificado que ele precisa controlar a inflação e pensar na atividade econômica, no emprego. Aqui, o Banco Central tem como objetivo apenas fazer com que a inflação chegue à meta”, explicou Flávio Conde.
O analista reforçou que a herança inflacionária “pesada” do Brasil justifica a atuação exclusiva do BC no controle dos preços, cabendo à Fazenda e aos ministérios econômicos correspondentes a função de explorar o crescimento da atividade econômica do país.
O movimento do Fed é acompanhado de perto pela equipe do Banco Central, sendo extremamente impactante na decisão da entidade brasileira em relação à política monetária adotada, segundo os economistas.
“O Fomc [equivalente ao Copom no Brasil] é dividido entre aqueles que são mais hawkish e aqueles que pensam mais no impacto à atividade econômica”, explicou Alexandre Espírito Santo.
Hawkish é um termo utilizado para dizer que os integrantes compartilham de uma visão mais dura sobre os juros, de aumentos sucessivos até a inflação estar sob controle. Segundo Espírito Santo, o teto de altas do Fed pode ditar o rumo da magnitude de decisões dos outros bancos centrais do mundo.
“Caso o Fed pare o aumento em 5,25% ao ano, isso é bom porque o mercado internacional começa a ver os mercados emergentes como mais atrativos, porque o dólar perde potência e isso ajuda o Brasil”, explicou. Para Espírito Santo o cenário é favorável.
“O Fed anunciando duas altas de 25 pontos-base e encostando em 5,25%, mantendo este patamar elevado inalterado por um tempo”, conclui.
Fonte: CNN Brasil.
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