De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio representa 25,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. É uma participação significativa que coloca o país entre os maiores agricultores do mundo.

Após um ano de 2022 de desafios com o aumento de custos de produção, devido, principalmente, aos preços dos fertilizantes, que registraram até 125% de variação, para 2023 a perspectiva é de aumento de produção, ainda que o setor tenha que continuar lidando este ano com custos mais altos, avaliam especialistas ouvidos pelo CNN Business, com reflexos no lucro a ser registrado pelas empresas agrícolas.

Segundo o balanço anual da CNA, no cenário doméstico pairam as incertezas sobre o controle das despesas públicas e a condução da política fiscal pelo governo eleito, o que pode impactar os custos do setor agropecuário, sobretudo em questões tributárias.

Além disso, caso a taxa básica de juros se mantenha em patamar elevado, atualmente em 13,75% ao ano, há previsão de um custo maior do crédito para o consumo, o custeio e o investimento.

Sobre as projeções de menor lucro feitas pela CNA, o diretor técnico da confederação ponderou, em entrevista à CNN, que a desaceleração global também explica a projeção de menor lucro para os produtores no ano que vem.

“Os produtos brasileiros são cotados em bolsas internacionais, e há uma expectativa de crescimento menor da economia mundial, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso já reduz as cotações internacionais de commodities”, disse ele.

Por outro lado, o consultor do Safras & Mercado Gil Barabach avalia que a produção deve ser maior em 2023. Além disso, o especialista entende que a desaceleração global pode, em certa medida, frear o aumento dos preços, já que demanda pode ser menor do que a oferta.

“A expectativa para o ano que vem é mais otimismo da produção, um cenário mais complicado em termos macro internacional, dentro desse cenário de desaceleração, risco de recessão, demanda mais acomodada, isso tudo segura o ímpeto de preços, mas espera-se mais a produção”, afirma Barabach.

Barabach diz ainda que no próximo ano não devemos ter ocorrência do fenômeno La Niña, o que também contribui para a capacidade de aumento da produção. Contudo, a preocupação não deve ser descartada.

A expectativa do especialista vai em linha com o previsto pela CNA, que estima, para a safra de grãos 2022/2023, um aumento de 15,5% (ou 42 milhões de toneladas) em relação à safra 2021/2022, atingindo 313 milhões de toneladas.

“Esse crescimento é reflexo da elevação na área plantada, estimado em 76,8 milhões de hectares na atual safra, principalmente da soja, que pode chegar a 43,2 milhões de hectares, superando em 4% o ciclo anterior. A oleaginosa também deve recuperar a produtividade, favorecida pelas condições climáticas, em 17% na comparação com a safra passada e a produção deve totalizar 153,5 milhões de toneladas”, diz o relatório.

No mercado financeiro, o destaque deve ficar com os segmentos de grãos e proteínas do agronegócio.

Sobre o setor de grãos, Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP, explica que mudanças climáticas são esperadas e podem gerar impactos, principalmente no Rio Grande do Sul (onde um volume menor de chuvas está no radar), mas que o Brasil ainda deve alcançar safras recordes de soja e milho.

“Por conta disso, quando olhamos para empresas listadas na bolsa neste segmento, são as que têm tido uma performance melhor do que a média do Ibovespa. Pois, o setor, apesar de custos mais altos, deve atingir margens acima da média em 2023”, completa o economista.

A avaliação é de que o setor de grãos, em sua totalidade, está melhor precificado e, por consequência, acaba gerando menos upside – ou seja, o potencial de alta de um ativo – no curto prazo.

Já com relação ao segmento de proteínas, o especialista diz que, no Brasil, a dinâmica para carne bovina segue muito positiva, ao observar o ciclo pecuário, o aumento de oferta e o aumento de abate.

Contudo, segundo ele, o cenário norte-americano influenciou na baixa performance das empresas listadas no Ibovespa – principal índice da bolsa brasileira – dentro do setor como a JBS e Marfrig.

“Nos EUA tivemos descarte de animais, aumento dos preços do gado, retirada de incentivos para demanda e a inflação que também fez com que o consumo diminuísse, prejudicando as margens do setor”, lembra Alencar. Um cenário que deve permanecer ainda em 2023, na avaliação do especialista.

Fonte: CNN.