Falar sobre sucessão dentro das propriedades rurais é um assunto que ainda gera desconforto. Afinal, existem fatores que comprometem o início do planejamento sucessório e tornam a transferência da gestão morosa. São eles:
- Fatores Culturais
Estão diretamente ligados ao tradicionalismo e ao autoritarismo, gerando resistência pela busca de conhecimento, inclusão de outras pessoas na gestão e inserção de tecnologia;
- Fatores Emocionais
Onde o titular se sente ameaçado e com medo de perder o poder e a utilidade.
- Confiança
As relações de confiança entre os familiares, principalmente entre o titular e sucessor, afetam todo o processo de transferência da gestão. Aos aspectos relacionados à confiança, podemos observar a falta de confiança do titular no sucessor e a do sucessor em si, porque em muitos momentos não se sente capaz de vencer os desafios que irá assumir.
- Recursos
Medo do negócio não se perpetuar, de que o sucessor não consiga prover o sustento dos familiares e de não ter um final de vida digno, dispondo dos recursos necessários.
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Sabemos que empresas e fazendas utilizarão tecnologias cada vez mais modernas. Então, a gestão do titular nunca será igual à do sucessor. A metodologia utilizada no passado destinou espaço para novas formas de trabalho, onde o pensamento estratégico, a gestão eficiente do capital humano e a capacidade de adaptação se tornaram requisitos básicos para quem vai comandar a propriedade.
Se pensarmos em um substituto para “fazer igual ao que se faz hoje”, pensamos meramente em continuar o que está pronto. Até porque ele não conseguirá se manter competitivo no mercado fazendo exatamente as mesmas coisas do pai e avô.
Sucessão vai muito além disso. É quando o gestor imprime sua marca, acompanha e se adapta às mudanças e modifica a tomada de decisão de unilateral para consensual.
Identidade da família x Identidade dos negócios
Geralmente a identidade do fundador se mistura com a da empresa e a da família, e em muitos momentos, há dificuldade em separar e entender a posição de cada uma. Imaginem vocês que o fundador construiu um legado e nele estão expostos os valores, a visão, suas habilidades e capacidades. É muito importante respeitar a identidade do criador, titular, gestor e a identidade familiar, pois ela é quem faz despertar o interesse na continuidade dos negócios para as próximas gerações.
A qualidade do processo de sucessão depende de uma boa estruturação da identidade da família, e que esta esteja em consonância com o negócio. Muitos pensam que famílias empresárias são sinônimo de discussões e desgaste emocional.
É possível trabalhar em harmonia quando se sabe onde quer chegar e quando os propósitos da empresa caminham lado a lado com os da família e dos administradores. Quando temos isso bem alinhado, transparente e permitimos uma gestão participativa, a identidade familiar se torna um valor agregado ao negócio.
Quando iniciar o planejamento sucessório?
Esta é uma dúvida muito comum na maioria das famílias. Na verdade, nós como seres humanos, estamos acostumados a esperar o melhor momento para tudo. Espera-se o melhor momento para casar, para se ter filhos, para voltar a estudar, para realizar um sonho. O que a gente esquece, é que as coisas não acontecem da noite para o dia, e os melhores momentos são construídos devagar.
A minha resposta a todos que me perguntam sobre isso é a seguinte: comece o quanto antes. Planeje a transferência da gestão para que seja da maneira mais harmoniosa possível. Envolva as pessoas e depois, gradativamente dê a elas oportunidade para decidirem.
Comece com questões de menor impacto, e nas situações mais arriscadas, você até pode perguntar o que ela faria se precisasse decidir. Assim, vai fazendo com que o sucessor vivencie os momentos da tomada de decisão sem ter a responsabilidade imediata de acertar.
E não se esqueça: prepare pessoas. Ninguém amadurece de imediato. O preparo é algo que exige esforço, vivência, tempo, fracassos. Ainda assim, ninguém está 100% preparado para nada nesta vida. Sempre temos algo a aprender. Sempre temos algo a modificar na nossa forma de trabalho. O mais importante nesta jornada, é que o futuro gestor tenha amor pelo que faz, que deseje ver o negócio perpetuar, e que tenha humildade para aprender com quem tem mais experiência, sem deixar de inovar e acompanhar as tendências do mercado, algo que é extremamente importante para esta geração de sucessores.
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