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Uma das unanimidades de opinião no mercado é a manutenção de juros em patamar elevado. Quanto tempo isso vai durar é uma dúvida. De acordo com especialistas, depende da política fiscal. Uma certeza é que a postura do novo governo nessa questão vai influenciar a política monetária, outro consenso nas análises do mercado.

Daí que o ano começa em ambiente até desalentador para a bolsa. Juro alto costuma não combinar com animação no mercado de ações.

Ademais, o cenário internacional, que em geral impacta a bolsa local, não parece colaborar com tom otimista: persiste a incerteza com a política monetária e a economia dos EUA, a preocupação com a continuidade de guerra na Ucrânia, a reabertura da economia chinesa com as medidas de restrição contra a covid-19 em um ambiente de novos surtos da doença e o temor de uma recessão da economia global.

Ubirajara Silva, gestor de Galapagos Capital, prevê um ano que começa difícil no Brasil e no exterior. Ele diz que, por aqui, o primeiro semestre tende a ser mais desafiador e o segundo, mais tranquilo. E sugere uma estratégia para fazer a travessia do ano nesse ambiente.

Juros elevados

“Como os juros estão oferecendo retorno atraente, o investidor pode ficar na renda fixa no começo do ano, mais desafiador, e ir gradativamente para a bolsa”, opina. Isso, segundo o gestor, poderia ser feito aproveitando qualquer eventual queda no primeiro semestre “para ir montando uma posição comprada para ganhar no segundo semestre”.

Para Sérgio Evangelista, gestor de portfólio da Western Asset, o ano que começa poderá repetir 2022, que, “com a ajuda do Banco Central (BC)”, fez das aplicações atreladas ao CDI as opções mais atraentes de investimento.

A Selic alta e, com ela, o CDI elevado dão maior atratividade à renda fixa em detrimento da bolsa, avalia Evangelista. “A dúvida é o que vai fazer o Banco Central com os juros em 2023”, acrescenta.

Em boa medida, a condução da política monetária, segundo ele, vai depender da política fiscal do novo governo do presidente Lula, que, quando mostrou as cartas, por meio da PEC da Transição, apontou ser expansionista. “São gastos que podem ter peso no fiscal”, avalia.

A variável-chave nessa equação é a formulação de um arcabouço fiscal, prevista para agosto. Será ela que vai fazer com que o Banco Central (BC) mantenha uma política monetária dura por mais tempo ou não, avalia Evangelista. A dúvida, diz o gestor, é saber se o novo governo terá uma política fiscal que vai facilitar o trabalho do BC.

Então “esses 13,75%, que é a taxa Selic atual, podem permanecer nesse nível por mais tempo e manter a renda fixa bastante atraente”, avalia Evangelista. “Se a âncora fiscal se mostrar bem-sucedida, o BC vai ter espaço para reduzir os juros”, acredita.

Tesouro Selic e Tesouro IPCA

Na dúvida, ele diz que os ativos de renda fixa mais indicados para começar o ano são os atrelados à Selic, como o Tesouro Selic; à inflação, como o Tesouro IPCA, já que “as expectativas para a inflação são relativamente altas”, e ao CDI, como os títulos privados, dentre eles, debêntures.

Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), diz que o cenário de indefinições recomenda que o investidor seja mais cauteloso e conservador. E vê oportunidades na renda fixa, tanto em títulos indexados à Selic e ao CDI, títulos atrelados à inflação e até em prefixados, desde que com prazos não muito longos.

Rodrigo Mendonça, sócio da Valora Investimentos, destaca o crescimento forte da indústria de renda fixa, principalmente dos fundos de crédito privado, puxado pela alta dos juros em 2022.

Com a perspectiva de manutenção de juros nesse patamar no curto e médio prazo, ele se diz “bastante otimista com a renda fixa, sobretudo com o mercado de crédito privado, como debêntures, CRIs (Certificados de Recibos Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recibos do Agronegócio).

Riscos do crédito privado

Mendonça lembra, no entanto, que o olhar na escolha do ativo de crédito privado deve ir além da rentabilidade. “É muito relevante que o investidor seja pouco mais cauteloso na seleção dos ativos ou fundos”, alerta. “O risco de crédito das estruturas na dinâmica do crédito privado aumentou bastante com a piora das condições macroeconômicas.”

A preocupação com o risco de crédito faz sentido porque os títulos de emissão privada não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF.

Como ficam as opções em bolsa

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, diz que a expectativa é de uma bolsa em alta, com projeção de 132 mil pontos no fechamento do ano, mas muito dependente da política fiscal. Para ele, a falta de controle sobre o fiscal faz com que o Banco Central (BC) seja obrigado a manter os juros altos, “o que dificulta a valorização da bolsa”.

Ele afirma que embora as primeiras notícias do novo governo nessa área não sejam positivas, as commodities têm ido bem e a perspectiva é que os preços continuem no atual patamar, dando sustentação ao Ibovespa.

‘O momento bom das commodities, tanto do minério de ferro quanto do petróleo, ajuda a bolsa, já que são 25% do Ibovespa”, destaca Soares. “Já o setor de bancos, outro quarto do índice, é mais sensível à atividade econômica”, avalia o analista.

O gestor da Galapagos Capital, Ubirajara Silva, afirma que os bancos são sempre um setor muito bom no Brasil, apesar da inadimplência em alta. “É algo que preocupa, mas o setor é sempre resiliente e muito promissor.” Outro setor que vê como interessante para 2023 é o de siderurgia, “com o preço do minério subindo, pela reabertura da economia chinesa”.

Ubirajara Silva diz que o investidor deve ficar de olho também no setor de varejo, que sofreu muito em 2022. “Tem empresas bem depreciadas que, se a economia começar a andar, será um bom cavalo para montar.”

Fonte: Mais Retorno.