Escolher o curso de formação no Ensino Superior não é exatamente fácil ou simples. Você se lembra como foi o seu processo? Provavelmente, assistiu a algumas palestras na escola, conversou com profissionais de outras áreas, visitou faculdades e universidades, fez testes vocacionais… Talvez, tenha se inspirado em alguém e já, neste caso, já tinha mais ou menos um modelo a seguir; talvez tenha recorrido às listas de profissões emergentes; talvez tenha optado por um curso completamente novo, até difícil de explicar para as outras pessoas; talvez a decisão tenha se baseado em outros critérios.
Independentemente da história, fato é que essa jornada exige muita reflexão e autoconhecimento. Pode ser até fonte de ansiedade, medo, insegurança, mas, eventualmente, essa decisão é tomada e a vida segue. Agora, multiplique todo esse processo por cinco, seis, sete…
O número não é consenso, mas já há algum tempo se fala que as novas gerações terão não uma, não duas, mas muitas carreiras ao longo da vida. Essa aposta se fortalece no momento atual de intensas mudanças e inseguranças. Reinvenção, aliás, é uma palavra que tem circulado bastante nos meios corporativos.
Falar sobre preparar-se para, por exemplo, cinco carreiras durante a vida não significa, claro, que as pessoas terão que prestar cinco vestibulares, graduar em cinco cursos diferentes, fazer especializações em cada uma dessas cinco áreas. E sim que elas provavelmente não atuarão no mesmo campo a vida toda.
Essa previsão que traria boas novas, a possibilidade empolgante de ser e fazer diversas coisas diferentes em vez de se restringir a um papel só, pode, no entanto, ser gatilho para outras sensações. Em um contexto em que o Brasil tem o maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo — de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são quase 19 milhões de brasileiros com o quadro —, não é difícil imaginar que a ideia da múltipla carreira possa contribuir com os batimentos cardíacos acelerados e falta de ar, característicos dos ansiosos.
Dependendo de como o assunto é tratado, o que poderia ser muito estimulante e motivador, pode se tornar um processo extremamente desgastante. Como evitar, então, essa armadilha?
Uma dica simples é lembrar daquele processo de reflexão e autoconhecimento sobre o qual falamos no começo do artigo e torná-lo uma constante na sua vida. Às vezes, lembramos de olhar para dentro de nós apenas quando surge um problema, quando algo não está certo em nossas vidas. Porém, o conceito de solicitude — que não é propriamente a solidão, mas remete mais a um estado de privacidade para se conectar consigo mesmo — precisa ser resgatado no nosso cotidiano, ainda mais quando falamos não só em carreiras em constante transformação, mas em um mundo em constante e veloz transformação.
Cultivar diferentes interesses também pode ser um passo importante para manter as possibilidades abertas. A proposta vai além de uma discussão antiga sobre “especialista versus generalista”, me refiro, na verdade, à simples ideia de manter-se curioso, testar novos hobbies, ampliar seu campo de conhecimento e, por consequência, ampliar também seu meio de convívio. O que nos leva para mais uma dica.
Networking, veja só, é importante tanto para a sua carreira atual quanto para as outras que estão por vir. Aliás, pode ser que você conheça novas possibilidades justamente por meio dessa rede de contatos, se, claro, ela for diversa. Profissionais de áreas diferentes, com perfis diferentes, com histórias diferentes ampliam o seu campo de visão. Saímos da (tão comentada) bolha e enxergamos novos horizontes, o que pode inclusive inspirá-lo a seguir os próximos passos na sua vida profissional.
Nesse sentido, essa rede pode ajudar na própria transição de carreira. Não me refiro apenas à indicação de vagas, mas ao processo de mentoria. Aquela troca entre alguém mais experiente em determinado assunto e outra pessoa interessada em aprender mais sobre o tema e também sobre si mesmo.
Olhar para o momento da escolha de uma carreira e entender que ela não será única nem definitiva pode dar aquele frio na barriga, mas esse sentimento não necessariamente precisa ser paralisante. Andar por uma estrada sem a certeza de que você permanecerá nela o tempo todo pode gerar alguma insegurança, mas talvez aproveitar a jornada admirando a vista, parando ao longo do caminho e fazendo descobertas seja uma boa forma de manter o radar alerta
para, quem sabe, uma mudança de rota. Uma viagem que não é rigorosamente planejada do começo ao m, mas que tem flexibilidade para, quando necessário, alterar o caminho.
Fonte: Você S/A.