Dani Junco é um dos principais nomes do país quando se pensa em inovação e maternidade. Quando engravidou, ela descobriu um mundo que desconhecia — um mundo que exclui mulheres após a gravidez — e escreveu uma nova página em sua carreira, fundando a B2Mamy, hub de inovação e aceleração de projetos criados por mães e mulheres. A startup já capacitou mais de 50 mil pessoas desde 2016 e deseja conectar e empoderar aquelas que desejam entrar no ambiente de inovação e tecnologia.
Junco é filha de Dona Rosalina — “baiana que não acredita no impossível”, como ela descreve —, empreendedora no ramo de eventos há 28 anos. Com sua empresa, realiza festas de casamento e 15 anos e faz questão de contratar mulheres acima dos 60 anos e refugiados. O pai, policial, faleceu quando ela tinha 15 anos. Desde então, Junco foi criada por Rosalina e sete tias. “Fui ensinada desde pequena que empreender era a saída. Nunca tive família que esperava que me tornasse funcionária pública, advogada, médica. Minha mãe sempre acreditou no empreendedorismo e me ensinou a ser resolvedora de problemas”, conta.
Para ajudar financeiramente nas contas de casa, começou a trabalhar aos 13 anos. Descobriu o que gostaria de fazer quando viu uma representante comercial de uma empresa farmacêutica em um consultório médico. Entrou no curso de farmácia e, aos 17 anos, foi contratada por uma empresa que trazia medicamentos novos para o Brasil. Neste emprego, acompanhou o lançamento de Viagra e Botox no país.
Depois de 10 anos na área, com a alta procura de empresas para as quais prestava serviço, ela decidiu que era o momento de empreender. Ao lado da irmã, iniciou a Enjoy, agência de marketing farmacêutico. O primeiro contrato assinado? Com a Danone.
Em 2015, após cinco anos empreendendo, Junco engravidou. O momento, que é transformador na vida de qualquer mulher, também traria um novo caminho para a carreira da empreendedora, que ela jamais antecipou. “Aos sete meses, eu não tinha amigas grávidas. Olhava as redes sociais e via todas com carreiras estratosféricas, se dando super bem e do outro lado mães falando de amamentação. Não me enxergava em nenhum dos dois lados”, relembra.
Confusa e perdida, ela decidiu criar uma publicação no Facebook, perguntando se estava sozinha, convidando outras grávidas na mesma situação para tomar um café. Oitenta mulheres responderam, e ela percebeu que a dor ia além de si mesma. Na mesma época, as startups e o cenário de inovação começaram a crescer no Brasil, mas ao frequentar os eventos, Junco não se via representada. “Ouvi que era preciso escolher entre ser mãe e CEO porque eram duas carreiras para a vida toda. Eu tinha minha empresa, com faturamento milionário e fui preterida. Então, fui estudar. Se não fazem por nós, vamos fazer por elas”, conta.
Nascia a B2Mamy, aceleradora focada em tornar mães líderes, capacitando-as e conectando-as ao ambiente de inovação. Com os contatos que tinha na indústria e nos círculos que frequentava, conseguiu fazer um pitch para o Google, que comprou a ideia e incubou o projeto em 2017.
Junco afirma que enxergar naquele novo ambiente, que ainda estava em formação, uma réplica dos mesmos comportamentos machistas e excludentes do mercado corporativo foi uma grande decepção. “Eu tinha esperança de que seria diferente. Mas o comportamento era exatamente o mesmo do mundo tradicional. Na pesquisa que rodamos, 78% das mulheres disseram ter sofrido assédio ao pedir investimento de anjos. Estava mapeado para não dar certo para elas”, frisa. Segundo o Female Founders Report de 2021, dos US$ 3,5 bilhões de investimentos feitos em startups brasileiras em 2020, apenas 0,04% do total foram para startups de mulheres — e apenas 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por elas.
Hoje, Lucas, fruto da gravidez que transformou a vida de Junco e a trouxe um propósito, tem 7 anos. Foi a partir da experiência da maternidade que ela teve uma venda retirada dos olhos, conhecendo um novo mundo de estatísticas preocupantes, como a que mostra que dentre 10 mulheres que engravidam, quatro não voltam ao mercado de trabalho após o fim da licença-maternidade, de acordo com a consultoria Robert Half.
O Brasil tem mais de 11 milhões de mães solo, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Junco considera que empreender não é para todo mundo e, por isso, presta mentorias e oferece cursos na B2Mamy para que consigam vencer o momento de confusão e achar um caminho. “Toda mulher que engravida vai passar por transição de carreira. Somos especialistas em early stage, nas que chegam confusas. Nossa preocupação é o impacto, por isso não escalamos tão rápido”, afirma.
Desde 2016, mais de 50 mil mulheres foram capacitadas pelos programas da aceleradora, mais de R$ 16 milhões foram movimentados dentro da rede e 269 foram aceleradas pelo programa B2Mamy Pulse. Em 2021, a B2Mamy conquistou o selo de parceira global do Google Startups.
Ela revela que neste ano a B2Mamy vai abrir rodada de captação de recursos. O sonho é seguir os passos do Magazine Luiza e se tornar uma marca consolidadora, com a aquisição de mais 12 marcas que trabalham com mulheres e para mulheres, para tornar a B2Mamy a maior especialista em soluções para as jornadas femininas. Nos próximos três anos, a meta é construir mais casas B2Mamy em outros estados, com projeção de 11 filiais pelo país.
Com: PEGN.