No começo de março deste ano, a Geru e a Rebel uniram as operações, criando a Open Co, maior fintech de crédito pessoal sem garantia do Brasil, com 100 mil clientes ativos e tendo originado, até então, R$ 1,5 bilhão de empréstimos.

Menos de um mês após a fusão, a Open Co está anunciando a captação de R$ 150 milhões em uma rodada série C, liderada pela International Finance Corporation (IFC), braço de investimento do Banco Mundial no setor privado, e pelo Goldman Sachs. A Raiz Investimentos, um single family office de Ivan Toledo, fundador e acionista controlador da Sem Parar até 2016, também participou da captação.

Os atuais investidores estão seguindo a rodada. Entre eles, estão a Chromo Invest, family office de Jayme Sirotsky; a Sampa Ventures; a Monashees; e a LTS, veículo de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Beto Sicupira.

“Os recursos serão usados para financiar crescimento, produtos e tecnologia”, afirmou Sandro Reiss, fundador da Open Co. Até agora, as duas fintechs haviam captado, somadas, US$ 57 milhões (aproximadamente R$ 315 milhões).

A negociação do aporte aconteceu em paralelo com as tratativas de fusão e só não foi anunciada em conjunto com a união das duas fintechs, que vão manter as duas marcas, porque faltaram detalhes que precisavam ser ajustados para concretizar a captação.

A meta da Open Co é originar R$ 1 bilhão de empréstimos em 2021, dois terços do que as duas fintechs emprestaram até agora – a Geru foi fundada em 2015 por Reiss e a Rebel, em 2016, por Rafael Pereira, Andre Botelho Bastos e Paulo Asterio Nunes.

Os empréstimos de Geru e Rebel são securitizados e depois estruturados em debêntures ou FIDCs (Fundo de investimento em direitos creditórios). A remuneração é feita pela originação do crédito, por um fee na gestão da carteira ou pela rentabilidade dos empréstimos. “As fintechs que fornecem crédito têm uma fração mínima do mercado”, afirma Reiss. “Esse é um mercado de trilhão de reais.”

Neste momento, as duas companhias estão focadas na fusão das operações, mas a ideia é crescer a equipe (hoje são 160 funcionários somadas as duas marcas) e usar os recursos para melhorar a experiência dos produtos atuais, bem como entrar em novas áreas.

A Open Co estuda entrar na área de empréstimo com garantias, como casas e carros, um segmento explorado pela Creditas, apurou o NeoFeed. Mas esse é um projeto para o futuro. “Nosso foco está em dar a melhor linha de crédito sem garantia para todos nossos clientes. O crédito com garantias não está nos nossos planos imediatos”, disse Reiss, quando questionado sobre o tema.

Parcerias, como a que a Rebel tem com a Ame Digital, fintech da Lojas Americanas e da B2W, dona das marcas Submarino e Americanas.com, devem impulsionar a captação de clientes. “Não só vamos manter, como também vamos expandir as parcerias”, afirma Reiss.

Apesar de atuarem na mesma área, as duas marcas da Open Co têm perfis de clientes diferentes. A Geru atua com um público mais conservador que tem acesso ao crédito. O da Rebel é mais jovem e com mais dificuldade para conseguir empréstimos.

As duas fintechs também tinham abordagem diferentes na hora de calcular o risco. No caso da Geru, a empresa usa uma informação cadastral mais enxuta e busca informações no mercado de várias fontes alternativas. A Rebel, por sua vez, tem uma pegada mais tecnológica, acessando informações da conta bancária e a associando a outros dados para calcular a taxa do empréstimo.

Nos dois casos, a taxa é personalizada para cada cliente. “O Rafael Pereira é do mundo da tecnologia. Minha história toda está ligada a finanças”, afirma Reiss. “Brinco dizendo que eu sou o ‘fin’ e ele o ‘tech’.”

Reiss diz que a taxa média de empréstimos das duas marcas é na casa dos 50% ao ano. “Não é baixa, mas é mais baixa que outras alternativas”, diz Reiss, que não revela a taxa de inadimplência. Em fevereiro, os empréstimos a pessoas físicas tinham taxa média de 93,83%, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

“O crédito na área de consumo é muito caro no Brasil e seguramente essas soluções tecnológicas vão ajudar a baratear o custo”, afirma Carlos Leiria Pinto, gerente-geral da IFC no Brasil, explicando um dos motivos para investir na Open Co. “Para nós, isso representa inclusão financeira, maior acesso ao crédito, mais concorrência e preços mais baixos aos consumidores.”

As fintechs são as empresas que mais têm recebido recursos dos investidores. Em 2020, as startups financeiras levantaram US$ 1,94 bilhão, a área que mais captou no Brasil. Neste ano, já foram US$ 500 milhões, segundo o Distrito, ecossistema independente de startups.

De acordo com esse levantamento, existem mais de 1 mil fintechs no Brasil. As que atuam na área de crédito são a terceira maior categoria, atrás apenas de meios de pagamento e back office. “Acho que está chegando o momento de maturação do segmento no Brasil”, diz Marcelo Ferreira, sócio da Chromo Invest, uma das primeiras a investir na Geru e que manteve participação relevante na Open Co.

As fintechs de crédito, como Geru e Rebel, estão aproveitando o vento de popa quem vem do Banco Central, que criou um ambiente regulatório favorável às startups financeiras. Inovações como o sistema de pagamento instantâneo PIX e o Open Banking têm colocado pressão nos bancos tradicionais.

Reiss diz que há muito espaço para crescer e lembra que a competição da Open Co não é contra outras fintechs que atuam na mesma área. “Os competidores são os bancos”, afirma ele. As instituições financeiras tradicionais, ao que tudo indica, entenderam também que as fintechs podem ser amigas e inimigas ao mesmo tempo. A briga promete.

Fonte: NeoFeed.