A maior cidade do estado de Santa Catarina, Joinville, tem se destacado como berço de startups na região. Isso acontece devido a uma combinação de seu histórico industrial, organização de incentivo à inovação e uma geração de empreendedores que passaram por empresas que deram certo no passado e agora se aventuram em seus próprios negócios.

Esses empresários se denominam de a “máfia da Informant”, uma referência à “máfia do PayPal”, no Vale do Silício, grupo de pessoas que saíram da companhia de pagamentos pela internet e criaram seus próprios negócios, como Tesla, LinkedIn, Yelp e YouTube.

Guardadas as devidas proporções, um desenvolvimento similar de reprodução está acontecendo em Joinville. Um bom exemplo é a Informant Tecnologia, empresa de desenvolvimento web, aplicativos móveis e integrações de APIs e que acabou formando um núcleo de empreendedores, alimentando o ecossistema de inovação local.

Guilherme Verdasca, presidente-executivo da Transfeera, uma das herdeiras da Informant, revela que “somos muito próximos de todos”. Trata-se de uma fintech de gestão e processamento de pagamentos.

Em 2014, Verdasca foi para Joinville trabalhar na ContaAzul, outra fintech que saiu da Informant. Três anos depois, uniu-se a dois colegas e fundou a Transfeera. Há pouco tempo, o negócio recebeu um aporte de R$ 3 milhões liderado pela Goodz Capital e com participação da Bossa Nova Investimentos, Honey Island e Curitiba Angels. Em sua cartela de clientes figuram empresas como: iFood, Rappi e Unilever.

De forma geral, o estado de Santa Catarina tem chamado atenção pelo ecossistema de inovação, com destaque para a capital, Florianópolis. Mas Joinville já está na 10ª posição do ranking nacional de cidades com a maior taxa de empresas por habitante. São aproximadamente 2,4 mil companhias por cidadão.

De acordo com um levantamento realizado pela Join.Valle, instituição de fomento ao empreendedorismo local, 116 dessas empresas são startups. Juntas, elas valem R$ 153 milhões e empregam 1.600 pessoas. A maior parte, 15% são fintechs, startups focadas em inovações para o setor financeiro.

“Algumas empresas vão dando certo e vira exemplo para o restante e outras pessoas abrem seus negócios também”, comenta Rafael Peboni, diretor de marketing da Motoboy.com, criada em 2013.

A empresa é uma plataforma online para fretes rápidos, que une pessoas físicas e empresas motofretistas autônomos. O serviço conta com 130 mil usuários cadastrados e recebeu investimentos da Bossa Nova, Banco BMG e CNT.

Na cidade também há duas incubadoras e um polo de tecnologia, o Ágora Tech Park, além de se beneficiar de uma tradição industrial.

A história de Piero Contenzini com a inovação em Joinville vem dessa época. Seu pai atuava como engenheiro eletrônico e reparava mainframes nas indústrias locais na década de 1970. Contenzini aprendeu a programa com 8 anos, aos 16 abriu sua primeira empresa, uma consultoria para a área de segurança e, pouco depois, fez parte da criação da Informant.

Em seguida, ele faria parte também da criação da ContaAzul e da Asaas. Outra fintech, a empresa oferece conta digital para micro e pequenos empreendedores. Mais de R$ 3 bilhões já foram transacionados pela plataforma que, atualmente, conta com mais de 51 mil clientes.

Para Contezini, existem algumas medidas do setor público que fomentam o desenvolvimento de startups na cidade, como a possibilidade de abrir empresas de tecnologia em áreas residenciais, o que favorece a criação das “empresas de garagem”, e a facilitação para a entrada de teles oferecendo internet fixa.

De forma geral, os empresários destacam ainda como um desafio a dificuldade de contratação de mão de obra especializada. Mas acreditam que a tradição de Joinville na área tem ajudado a qualificar muita gente na área de tecnologia.

A diretora do polo regional de Joinville da Acate, Karin Schmidlin, ressalta que um dos desafios a serem superados é estreitar o relacionamento entre as empresas tradicionais e as startups que estão surgindo.

“Percebo que startup ajuda startup, mas há um certo distanciamento ainda entre as empresas tradicionais e as novas. Temos certa perda com isso, pois há muita indústria que precisa de tecnologia, que acaba buscando fora da cidade, do país, enquanto temos aqui um grande número de empresa para fazer essas trocas”, comenta a diretora.

Fonte: Folha de São Paulo