Habilidades mentais, comportamentais, emocionais e sociais que auxiliam a individualizar o ser humano e contribuem para a sua carreira, são definidas como “soft skills”: características que diferenciam uma pessoa da outra.

Apesar de muito relacionadas ao crescimento profissional, seja em uma companhia ou até mesmo para quem trabalha de forma autônoma, essas habilidades interpessoais, também podem ser bastante importantes àqueles que desejam começar a investir em ações.

“Enquanto as ‘soft skills’ envolvem aspectos ligados a habilidades que são avaliadas a partir de aspectos qualitativos e subjetivos, o termo ‘hard skills’ se relaciona às habilidades técnicas necessárias para realização de um trabalho. Além disso, conseguimos dimensionar o tempo que as hard skills levarão para serem desenvolvidas; elas também são mais facilmente mensuráveis, como a fluência em um idioma ou o domínio de uma tecnologia. De forma simplificada, as soft skills são competências comportamentais enquanto as hard skills são habilidades técnicas”, explica Ana Cláudia Bilhão Gomes, da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Desta forma, pode-se dizer que, as hard skills seriam uma porta de entrada, enquanto as soft skilss seriam o caminho de permanência e de destaque.

Veja a seguir quais são as soft skills destacadas para quem deseja dar o primeiro passo no universo dos investimentos:

  • Inteligência emocional

Quando se fala em investimentos, fala-se, também, de riscos. Eles podem, é claro, ser maiores ou menores, dependendo do tipo de ação escolhida, mas investir sempre será arriscado em algum grau. Nesse sentido, a gestão de emoções é bastante importante, pois é preciso saber lidar com o medo de perder dinheiro, com a euforia de estar ganhando e com a ansiedade diante dos altos e baixos da Bolsa de Valores, por exemplo.

“A inteligência emocional é responsável por mais da metade da performance profissional de qualquer pessoa, independentemente da área de atuação. Ela é a base das soft skills. Um profissional mais resiliente, mais comunicativo e que suporta o estresse precisa ter como base a inteligência emocional. Para quem investe dinheiro em ações não é diferente. Já dizia Warrent Buffett, ‘se você não pode controlar as suas emoções, não pode controlar o seu dinheiro”, diz Hendel Favarin, co-fundador da Conquer, escola de negócios voltados à nova economia.
Favarin explica que desenvolver as soft skills necessárias para lidar com investimentos envolve uma “maratona” e não acontece da noite para o dia. É preciso paciência, disciplina e consistência, num trabalho diário que deve ser encarado a médio e longo prazo.

  • Suporte à pressão e tolerância ao erro

A inteligência emocional está intimamente ligada a suportar pressões, especialmente quando o investimento é realizado em ações mais arriscadas e de retorno rápido.

“Por ser um terreno arriscado e bastante competitivo, a pessoa precisa ter controle emocional e saber lidar e suportar a pressão. Quando eu falo em ‘inteligência emocional’, falo também da competência de saber administrar e entender as emoções. Em relação à Bolsa e às oscilações e comportamento do mercado, é interessante ter essa leitura mais das movimentações do mercado. Se a pessoa for descontrolada, mais suscetível às variações, ela tende a ser mais impulsiva. Controle emocional é uma soft skill chave para quem quer investir na Bolsa ou realizar qualquer outro tipo de aplicação”, opina Victor Richarte Martinez, supervisor do Núcleo de Pessoas (Nupo) da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Quanto a investimentos de renda variável, a pressão existe uma vez que, dependendo da situação do mercado, os investidores precisam tomar decisões de maneira muito rápida. Com a inteligência emocional “calibrada”, o investidor se mantém minimamente em equilíbrio diante de quedas no mercado e perdas em sua carteira de investimentos.

É preciso também destacar a tolerância ao erro e a perdas, já que investir em determinadas categorias significa apostar em alternativas com maiores retornos, e, consequentemente, um maior risco. Assim, o investidor precisa desenvolver sua capacidade de tolerância a perdas para ousar e apostar em maiores ganhos – caso esteja adequado ao seu perfil.

  • Paciência e organização

A paciência também é apontada pelos especialistas como uma habilidade crucial para quem precisa lidar com investimentos. Ela é essencial para investimentos mais clássicos, de retorno a longo prazo – um Título do Tesouro com vencimento em 2035, por exemplo -, mas também deve ser seguida para quem trabalha com ações de retorno rápido, pois é preciso ter paciência para fazer o movimento correto e não se descontrolar. A paciência, aliás, está muito ligada ao autoconhecimento.

“Acredito que a paciência seja importante para qualquer investimento, pois nos cercamos cada vez mais com a ilusão de que em pouco tempo podemos dobrar, até triplicar, nossos recursos. Infelizmente, não é bem assim. A paciência é relevante para compreender que o processo de investir requer tempo”, comenta Emanuelle Nava Smaniotto, docente da Unisinos.

A paciência está intrinsecamente ligada à organização, já que, para investir, é preciso ser, minimamente, organizado. Primeiro, é importante poupar um percentual de renda todo mês. Em segundo lugar, é necessário ter organização para gerenciar os investimentos e acompanhar as notícias do mercado, estando, assim, melhor preparado e informado para escolher e alocar os investimentos.

  • Tomada de decisão e liderança

Quando se fala em tomada de decisão a respeito de investimentos – seja a curto, médio ou longo prazo, ações conservadoras ou mais arriscadas -, trata-se de uma soft skill coringa, pois para aplicar o dinheiro a pessoa deve saber que existe um risco, em maior ou menor grau.

“Já sobre liderança, quando pensamos nela para falar em aplicações, temos que entender uma visão de futuro. Liderança tem a ver com influenciar e ser influenciado. Se a pessoa for um gestor, um líder, realmente tem que entender que essa aplicação pode trazer risco para a sua empresa e seu corpo de funcionários. Tomar decisão é a capacidade básica e, claro, tem que ser desenvolvida. Mas pouca gente investe nisso”, alerta Victor Richarte Martinez, da ESPM.

  • Adaptabilidade

O mercado é dinâmico, portanto, a adaptabilidade deve ser desenvolvida pelos investidores, que precisam estar conectados a esses movimentos e se adaptar às mudanças. Isso é necessário para que se possa continuar tomando as melhores decisões de investimento. Muito ligada à tomada de decisão, visão crítica e criatividade, além, é claro, do controle emocional, a adaptabilidade, enquanto capacidade ou competência, acabaria sendo uma espécie de guarda-chuva desses fatores.

“A adaptabilidade tem tudo a ver com resiliência e inteligência emocional. Temos que estar abertos ao novo e às novas experiências. Não faz sentido esperar o momento ‘certo’, pois a ‘estabilidade’ não existe. Precisamos agir em meio às incertezas. Só colhe quem planta, e quem está investindo agora é quem vai colher resultados no futuro”, diz Hendel Favarin, da Conquer.

  • Uma combinação de hard e soft skills também deve ser considerada

O fato de o desenvolvimento de determinadas soft skills ser fundamental para as pessoas que desejam investir não anula a relevância de certas hard skills nessa empreitada. Como já dito, as hard skills são habilidades mais técnicas, que podem ser aprendidas por meio de cursos, de estudo. Apesar da importância do autoconhecimento, desafios pessoais, relacionamento interpessoal, bem como passar por determinadas experiências e situações, conhecimento técnico também deve ser considerado.

“As pessoas associam finanças à matemática, pensam que se trata de uma ciência puramente exata. A teoria financeira, porém, possui a linha de finanças comportamentais há muito tempo! E por quê? Porque se entende que os indivíduos não são máquinas e seus sentimentos e vivências irão alterar as decisões que farão sobre os seus investimentos. Assim, podemos pensar que se finanças não são uma ciência completamente exata, é claro que o investidor não conseguirá o máximo de sucesso somente por meio do desenvolvimento de suas hard skills. Um investidor que não possui inteligência emocional, provavelmente ficará muito abalado diante de uma perda e, consequentemente, poderá ter suas futuras decisões de investimento abaladas”, opina Emanuelle Nava Smaniotto.

Uma habilidade, então, completa a outra, não sendo exagero dizer que as soft skills são a base que confere força ao conhecimento técnico.

Fonte: Estadão