Após os investimentos terem caído 3% no ano passado, o pior resultado desde 2016, os analistas preveem uma recuperação lenta no futuro. A expectativa é que os investimentos só ganhem impulso no final deste ano ou em 2025. Dúvidas em relação ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a implementação da Reforma Tributária e a trajetória de queda dos juros são fatores de incerteza a serem considerados.
“As condições financeiras ainda estão relativamente restritivas. Mesmo com a redução das taxas de juros, é importante lembrar que esse efeito leva tempo para impactar a economia real. A construção civil é um setor que costuma sentir mais essa defasagem. Esperamos que, no final do ano, entremos em um cenário mais estimulante, o que deve se refletir nos dados de 2025. Isso explica a aceleração do crescimento”, afirmou o analista, projetando um crescimento do PIB de 1,5% em 2024 e 2% em 2025.
Em 2023, primeiro ano do governo Lula 3, a economia brasileira cresceu 2,9%, três vezes mais do que o previsto no início do ano anterior, segundo dados divulgados pelo IBGE na sexta-feira. Enquanto a taxa de juros elevada contribuiu para controlar a inflação, prejudicou os investimentos, conforme avaliação de Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV/Ibre.
A política monetária também foi um obstáculo para o avanço dos investimentos em 2023, aumentando o custo do capital e encarecendo o crédito para os setores da indústria de transformação e construção civil. Além disso, a questão fiscal envolvendo o novo governo manteve as taxas de juros altas por mais tempo.
Apesar do cenário negativo dos investimentos no ano passado, as perspectivas começam a melhorar em 2024. Silvia Matos destaca que já há setores, como o automotivo, registrando maior absorção de máquinas e equipamentos neste ano.
Na construção civil, que teve uma queda de 0,5% em 2023, a retomada do programa Minha Casa Minha Vida deve impulsionar um aumento de 2,6% em 2024. A formação bruta de capital fixo (FBCF) deve crescer 3,5% este ano, após uma contração de 3% no ano passado. No entanto, não se espera um grande aumento nos investimentos. A indefinição sobre a alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e quais setores terão desoneração tributária ainda deixam os investidores inseguros no curto prazo, apesar dos benefícios da reforma tributária no médio e longo prazo.
Outro ponto que requer cautela é a velocidade da retomada das obras de infraestrutura com o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), num contexto de aperto monetário. Com as altas taxas de juros, espera-se que o setor busque condições mais favoráveis caso o governo deseje acelerar os projetos. Para o líder do governo na Câmara dos Deputados, deputado José Guimarães (PT-CE), o principal desafio do Executivo em 2024 será regulamentar a reforma tributária sobre impostos incidentes sobre o consumo (PEC 45/2019). Ele ressaltou que 2023 foi um ano de conquistas, com a aprovação pela Câmara praticamente de toda a agenda governamental.
Segundo o parlamentar: “Praticamente votamos tudo, desde a PEC da Transição até a reforma tributária, passando pelo novo regime fiscal e pela MP 1185/23. Esta medida provisória consolida os esforços realizados pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad e pelo nosso governo para pacificar o ambiente econômico em 2024”.
A MP 1185 altera as regras de tributação das subvenções econômicas concedidas às empresas pelo poder público. Com essa mudança, as empresas poderão transformar em crédito fiscal somente as subvenções utilizadas para investimentos. Anteriormente, também eram considerados recursos destinados ao custeio, o que reduzia o montante dos impostos a pagar.