Na contramão da queda do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB), o agro fez do Brasil o maior exportador do mundo, mesmo em meio à pandemia. Os investimentos em tecnologia seguiram a tendência, o que também beneficiou startups do setor.

A TerraMagna, agtech que financia produtores rurais por meio da revenda, viu o crédito concedido em 2020 ultrapassar a casa dos 50 milhões de reais.

A dimensão do setor foi o que atraiu os fundadores da TerraMagna Bernardo Fabiani e Rodrigo Marques, dois engenheiros eletrônicos, a investirem no setor agrícola. “Olhamos para o crédito por saber que o volume movimentado é colossal, ao mesmo tempo em que a avaliação de risco para esse setor ainda é muito ineficiente”, diz Bernardo Fabiani, presidente da TerraMagna.

Em comum, os dois fundadores que se conheceram no Insituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) tinham o desejo de empreender e trabalhar com um setor rico em oportunidades. Desse anseio nasceu em São José dos Campos (SP) a TerraMagna, em 2017. Mas foi somente dois anos depois que a startup delineou sua atuação com o mercado de crédito rural.

O aumento na produtividade agrícola na pandemia também cooperou para que a startup mais do que triplicasse o número de hectares monitorados via satélite. “Por trás do aumento da produtividade, está um produtor que precisa de crédito para sustentar a sua produção e comprar insumos, safra após safra”, diz.

A TerraMagna financia o produtor por meio da revenda. Isso significa que a fintech oferece crédito aos revendedores e agroindústrias, vendas e pequenos comércios que recebem produtos de produtores rurais como sementes, fertilizantes e defensivos, por exemplo.

Hoje, o financiamento para o setor de agro ainda é um mercado desassistido, diz Fabiani. A solução encontrada pela startup e que também é o grande diferencial da empresa, segundo o executivo, é o fato de que a avaliação de risco e taxas de juros são estabelecidas de acordo com a produtividade – checagem feita com a ajuda dos satélites. Na prática, as taxas são calculadas caso a caso, a depender da área e histórico financeiro de cada produtor.

Para a revenda, isso significa deixar de lado o crédito e alterações do clima como fatores de risco no balanço comercial. O serviço de antecipação de recebíveis da TerraMagna movimentou 53,5 milhões de reais em 2020. Para este ano, a startup estima uma movimentação oito vezes maior, financiando meio bilhão de reais. “Entendemos que as revendedoras ofereciam os insumos para que o produtor fizesse o seu plantio e só conseguem retorno depois que esse produtor faz a colheita e a venda e após muitas parcelas. Queremos acelerar esse processo e ajudar nos casos de perda”, disse.

A Agtech tem em torno de 60 clientes, entre revendas, agroindústrias e cooperativas nas principais áreas agrícolas do país, com uma maior concentração no Cerrado. Ao todo, a startup monitora 8,3 milhões de hectares no Brasil, o triplo quando comparado ao ano anterior. Esse salto só foi possível graças a uma rodada de investimento de 2 milhões de dólares que aconteceu em setembro de 2019 liderada pelo fundo de venture capital ONEVC, Accion Venture Lab e pelo MAYA Capital, fundo de Lara Lemann.

Para o próximo ano, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima uma alta de 4% no PIB do agronegócio, e a tendência é que pequenos produtores recorram cada vez mais a soluções que não estejam associadas ao sistema financeiro tradicional para o acesso ao crédito, segundo Fabiani. Esse cenário vai apoiar os objetivos de escalada da TerraMagna: serão 24,9 milhões de novos hectares monitorados e mais 446,5 milhões de reais em crédito a serem concedidos até o final do ano.

“Sabemos que a agricultura brasileira é um setor com números que saltam os olhos e queremos contribuir ainda mais com o crédito, que é um insumo essencial para esse mundo. Para isso, também vamos apostar na regionalização, com abertura de escritórios em Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul”, diz Fabiani.

Fonte: Exame