Mesmo com as habituais reclamações do setor produtivo, a irregularidade entre a taxa Selic e os juros mais altos cobrados dos agricultores nas linhas de crédito rural não tem sido o bastante para reduzir o ritmo de acesso aos recursos. Bem pelo contrário.

Nos dez primeiros meses da safra 2019/2020 (março de 2019 até julho de 2020), foram liberados R$ 155,8 bilhões, 11% mais que no mesmo período na safra anterior, que chegou a R$ 140,1 bilhões.

O crescimento tem sido impulsionado pela alta demanda por financiamentos para industrialização, que aumentaram 69% no intervalo, para R$ 9,8 bilhões, para investimentos e também para custeio. As contratações para operações de comercializaram diminuíram 13,8%  na comparação, para R$ 18,1 bilhões.

De acordo com dados do Banco Central, nos últimos dois meses os desembolsos de crédito rural chegaram a R$ 30,6 bilhões, 32% mais que em março e abril do último ano. E, mesmo com o cenário de pandemia, os bancos privados e as cooperativas de crédito seguiram crescendo nesse mercado, ainda que a liderança esteja com os bancos públicos.

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De julho de 2019 até março de 2020, as contratações de crédito rural junto aos bancos públicos cresceu 9,8%, para 82,8 bilhões,  ao passo que a alta entre os bancos privados foi de 9%, para R$ 42,4 bilhões, e entre as cooperativas de crédito chegou a 15,8%, para R$ 27,8 bilhões. O Banco do Brasil foi responsável por 42% das liberações totais. Foram R$ 66,1 bilhões, dos quais R$ 14,1 entre março e abril. Entre os privados o destaque foi o Bradesco, com R$ 11,2 bilhões desde o início da safra.

A principal fonte do dinheiro emprestado em março e abril foram os depósitos à vista, com R$ 12 bilhões liberados. No mesmo período em 2019, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) com taxa livre haviam sido destaque, com R$ 6,4 bilhões. Como na temporada 2018/19, os recursos obrigatórios lideram os desembolsos nesta temporada, com R$ 50,9 bilhões.

Na comparação entre julho de 2019 até março de 2020, o crédito para custeio para os agricultores familiares pulou de R$ 10,3 bilhões para R$ 11,9 bilhões. Já o dinheiro para investimentos via Pronaf subiu de R$ 9,5 bilhões para R$ 11,1 bilhões. No Pronamp, que atende médios produtores, a alta nas operações de custeio foi de R$ 14,5 bilhões para R$ 20,1 bilhões. Nos investimentos, o valor dobrou e alcançou R$ 2,2 bilhões.

Sem a realização de feiras e exposições agropecuárias,, os desembolsos de recursos do Moderfrota – principal linha de investimentos do Plano Safra, voltada para a aquisição de máquinas agrícolas -, aprofundaram a tendência de queda. O volume acessado nesta temporada chegou a R$ 5,4 bilhões, 26% menos que nos dez primeiros meses do ciclo 2018/19.

O economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, lembra que, embora as contratações em 2019/20 estejam em ritmo mais acelerado que na safra passada, os desembolsos efetivos estão muito aquém do montante total de recursos anunciado para o atual Plano Safra. Mesmo assim, ele diz que alguns bancos já reduziram juros e operam recursos livres com taxas abaixo das controladas para alguns clientes. O movimento reforça a pressão de um corte maior nos juros para 2020/21.

Fonte: Valor Econômico