Apesar de ser um ano com boas perspectivas para geração de renda do agronegócio, é preciso estar atendo aos possíveis impactos causados pela pandemia do novo coronavírus. A instabilidade do ambiente de negócios fez que muitas instituições começassem a repensar suas projeções, apontando para uma grande desaceleração da economia mundial.

Ainda que o agronegócio sinta menos que outros setores, já que a demanda por alimentos segue firme, esse panorama de encolhimento ligado às oscilações em relação à eficácia das regras de contenção da doença afeta de maneira direta algumas cadeias e traz ainda mais riscos para o setor.

Nessa perspectiva, o setor sucroenergético e a cultura de algodão tem se destacado. No setor sucroenergético, a queda das cotações do petróleo propõe preços do etanol hidratado na usina em patamares abaixo de R$ 1,50/L na safra que se inicia. Assim, a atratividade do biocombustível diminui e proporciona o aumento da produção de açúcar. Além disso, uma restrição estendida à movimentação de pessoas tende a diminuir em grande escala o consumo de biocombustível.

Já para o algodão, a ligação ente os baixos preços do petróleo e da fibra sintética junto com a desaceleração da economia, fizeram o valor da pluma cair drasticamente na bolsa de Nova Iorque.

Existem riscos para todos os setores. O primeiro deles a ser considerado, é uma provável desaceleração da logística de exportações a reboque da diminuição do deslocamento de pessoas para reduzir a propagação da doença tanto no Brasil quanto nos destinos. Isso pode modificar a programação de embarques e estender o ciclo de caixa de quem depende das vendas internacionais, bem como tende a levar a uma redução de liquidez para a comercialização de produtos no spot.

Caso isso aconteça, as importações de fertilizantes e princípios ativos de defensivos poderão ser impactadas, aumentando o risco das entregas de tais insumos para a safra 20/21.

Outro fato a ser considerado é que o enfraquecimento da economia global pode alterar o aumento esperado das exportações de carnes do Brasil. Embora a expectativa seja de mais um excelente ano de vendas à China, na esteira da queda drástica de produção pela febre suína africana, outros importantes destinos, como o Oriente Médio, África e União Europeia, podem ser menos demandantes.

No Brasil, a desaceleração da economia deve reduzir a recuperação do consumo de combustíveis quando o trânsito de pessoas voltar à normalidade, assim como afetar a demanda por produtos alimentícios mais sensíveis à renda, caso de cortes do traseiro do boi e produtos processados.

Esse cenário de incertezas sugere que a volatilidade dos preços das commodities e da taxa de câmbio seguirá alta, o que implica em mais risco para a atividade. Além disso, como observado em outras crises, períodos como esse tendem a dificultar o refinanciamento, já que a percepção de risco como um todo se agrava.

Perante esses riscos, é recomendável que os empresários do agro sejam prudentes em suas decisões, minimizando os impactos desse ano desafiador. Um cuidado especial deve ser dada à preservação de uma boa posição de caixa, que inclusive deve ser maior que os níveis normais.

Caso a crise se prolongue, é imprescindível ter caixa para lidar com os momentos de incerteza.

Fonte: Notícias Agrícolas